O teor da mensagem no Novo Testamento é a vinda e o estabelecimento do Reino de Deus através de Seu Messias, Jesus, O Cristo. O Messias esperado é rejeitado e crucificado pelos homens, mas exaltado e glorificado por Deus, que o fez Senhor sobre todas as coisas (Fl 2:9-11). Excluir a perspectiva de que Jesus é o Rei Soberano e que Sua igreja é formada por súditos fieis a Ele, é minimizar radicalmente o significado de Sua obra salvífica.
O Reino de Deus, basileia tou theou ou o Reino dos Céus, basileia ton ouranon, denota um lugar, ou uma realidade onde Deus é soberano (Sl 22:28), e todas as coisas estão em perfeita harmonia com Sua vontade (Mt 6:10). Deus está ativo na história da humanidade, redimindo-a em Cristo a fim de fazer Sua vontade soberana conhecida e experimentada pelos homens (Ef. 1:5-9; Rm 12:1-2).
O Reino de Deus foi inaugurado em Cristo e continua através de Sua igreja. A igreja é muitas vezes referida nas Escrituras como o “corpo de Cristo”. “Corpo de Cristo” significa senão que somos unidos misticamente com Cristo e, consequentemente sua missão se torna nossa missão, como Júlio Zabatiero explica: “a missio Christi também deve ser a missio ecclesia1”.
O Evangelho é, então, as boas novas desse Reino (Mt 24:14). Proclamação, kerigma, é ato de anunciar os decretos reais, tornando-os conhecidos2. A ordem do Rei é que proclamemos a chegada deste Reino, seus valores e caráter, a todos e em todo lugar. Obediência, vista nesta ótica não é um peso e sim um privilégio. A submissão à vontade de Cristo nos torna participantes do projeto do Rei.
Como o palco do estabelecimento deste Reino é o mundo, existe uma resistência por parte das forças do “anti-Reino”, como afirma Leonardo Boff, em seu livro Igreja Carisma e Poder. Ele fala ainda mais que “impõe-se sempre um oneroso processo de libertação para que o mundo possa acolher em si o Reino e desembocar no termo feliz3”. O apostolo Paulo escrevendo para a igreja de Colossos diz que “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do Seu amor” (Cl 1:13). A igreja como agente do Reino é o instrumento de Deus para libertar as pessoas das forcas opressivas e destrutivas. É a Ecclesia de Cristo, em obediência a Sua vontade soberana, existindo como extensão da Sua obra, que se move pelo mundo, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela! (Mt 16:18-19)
Ainda que a realidade do Reino já seja presente através de Cristo e Sua igreja, aguardamos o estabelecimento final do Reino de Deus. A esta tensão é dado o termo teológico de o “já e o ainda-não”. Contudo, isso não deve criar um dualismo escatológico como se o que acontece agora e o que virá no futuro fossem duas coisas separadas. Para Ladd, estas duas realidades se integram dentro do projeto redentor de Deus. Ele diz: “este reino que aparecerá como um ato apocalíptico, na consumação dos tempos, já entrou para a história humana na pessoa e missão de Jesus com a finalidade de sobrepujar o mal, de libertar os homens do seu poder e propiciar-lhes a participação das bênçãos da soberania de Deus sobre suas vidas4”. A consumação final do Reino é então um desdobrar das ações de Deus na história.
Para concluir, somos desafiados, pelas Escrituras, a vivermos na dinâmica do Reino. Devemos desejar que este Reino venha (Mt 6:10); buscá-lo incessantemente (Mt 6:33); pregar acerca dele (Mt 24:14) e acima de tudo, vivenciá-lo pois ele está dentro de nós, como afirma o próprio Jesus (Lc 17:21). Jorge Henrique Barro explica que ainda que “o Reino não se encontra em sua plenitude no mundo contemporâneo, não podemos negar que seus sinais estejam já entre nós5”. Não sabemos quando será a consumação de todas as coisas, quando o Reino de Deus será final e plenamente concretizado, contudo podemos ter certeza que o que esperamos “lá e então” já está sendo visto e experimentado “aqui e agora”.
Bibliografia
BARRO, Jorge Henrique. Uma Igreja Sem Propósitos: os pecados da igreja que resistiram ao tempo. São Paulo: Mundo Cristão, 2004
BOFF, Leonardo. Igreja, Carisma e Poder. Petrópolis: Vozes, 1981
COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Juerp, 1993
ZABATIERO, Júlio. Fundamentos da Teologia Prática. São Paulo: Mundo Cristão, 2005
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Sugiro uma leitura do autor N.T Wright que cooperará nessa temática.
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