No mundo das indústrias, provavelmente a que mais cresce na atualidade é a cosmética. Servindo como um trampolim para aqueles que se encontram insatisfeitos com alguma parte de seu corpo, ou que buscam simplesmente melhorar sua feição, a indústria cosmética vem oferecendo, ou melhor, “vendendo”, esperanças para quem está atrás da tão desejada “perfeição”. Neste mercado inesgotável que vai desde vendedores ambulantes, até às vitrines mais luxuosas; desde um simples estojo de maquiagem até às cirurgias mais complexas, a cosmetologia oferece resposta a todos, indiscriminadamente.
Contudo, neste universo de celebridades e fotogenia, cuja regra valorativa é “o importante é brilhar e brilhar cada vez mais”, observa-se uma tendência cada vez mais forte de dar muita importância ao que parece ser da vida exterior e ignorar ou menosprezar a realidade interna do ser. É neste momento que damos conta de uma grande disparidade presente nas pessoas que se tornam projeções de beleza e grandeza. Pessoas bonitas e aparentemente bem-sucedidas, mas com um trágico histórico de dependências químicas; pessoas de corpos esculturalmente perfeitos, rostos invejáveis, mas com a alma enferma pela anorexia e bulimia; pessoas formosas e, por fora, sem quaisquer problemas, mas que no coração são suicidas em potencial!
O problema da visão cosmética, não é a cosmética em si, mas a falso sentimento de realização que ela oferece. E isso nas mãos dos megalomaníacos... cai como luva. É como se o valor pessoal do indivíduo fosse vinculado e determinado por um paradigma imaginário (relativo à imagem) culturalmente aceitável, e assim aquele individuo vive escravizado e até perseguido pelo fantasma da boa imagem. E neste afã de buscar aceitação pela configuração externa, vê-se uma verdadeira inversão de valores: primeiro a aparência, depois a essência. E não é de admirar que isso influencie até nossa espiritualidade!
O começo do pensamento cosmético se deu na filosofia grega, a qual afirmava que a organização e a ordem do kosmos (mundo) determinavam a boa ordem e a decência dos indivíduos. E foi dessa concepção que nasceu o termo “cosmética”. De um modo genérico, a palavra cosmética significa a ciência que trata da higiene e do embelezamento físico por meio de produtos e recursos. Em se tratando de estilo de vida, a linguagem cosmeticista expressa um visão de mundo, cujos valores essenciais são a rejeição do feio e a busca incessante da feição e da imagem perfeitas.
Por um lado, aliada ao pensamento esteticista que basicamente considera fundamental para o homem a dimensão estética “endeusando” a experiência e a fruição do belo, a essência da filosofia cosmética se caracteriza pela idealização e busca da perfeição exterior. Por outro lado, motivada pelo hedonismo, que é a busca incessante do prazer, o cosmeticismo se fundamenta na seguinte máxima: o importante é se sentir feliz. E nisso, vivendo em função da beleza exterior e da busca da satisfação pessoal, a visão cosmeticista deixa o ser humano refém de uma mentalidade narcisista.
A mitologia Greco-romana conta a historia de Narciso, um camarada que, um dado dia, andando a beira de uma fonte percebeu sua própria imagem refletida nas águas límpidas. Ele enamorou-se tanto por sua aparência que ficou a contemplá-la incansavelmente até ao ponto de morrer ali. O termo narcisismo, derivado desta história, passou a significar o amor a sua própria imagem e aparência. Amor à aparência! Esta pode ser a definição bem precisa desta filosofia cosmética. O culto à auto-imagem ou a auto-idolatria!
Antes de prosseguirmos, é preciso deixar claro que não estou dizendo que não se deve cuidar da aparência. Obviamente esta não é minha opinião. Sou plenamente a favor de uma boa apresentabilidade. Contudo, percebo um grande perigo (e este cuidado, precisamos tomar), de vivermos em função de nossa aparência fazendo dela (do mundo exterior) um fim em si mesmo, em detrimento de tudo o mais que nos constitui.
A “Teologia Cosmética”, a que me referi no titulo deste artigo, é um eufemismo para uma espiritualidade que cultua a aparência em detrimento da essência. De certa forma, é uma teologia “neofarisaica” que adorna o exterior dos sepulcros e não percebe que seu interior está apodrecendo; que limpa primeiro o lado externo do copo e deixa sujo o lado interno (Mt.23:25-26). O crente cosmético é aquele que só se preocupa com o que as pessoas pensam dele e se esquece do que Deus está pensando sobre ele; ele se preocupa muito com sua reputação fora, mas dá a mínima para o caráter! O cristão cosmético é aquele que, na igreja, é um “santinho” abençoado, mas em casa, um verdadeiro “demônio”!
Chega de cristianismo cosmético! Vamos tirar as mascaras da falsa espiritualidade! Jogue por terra as maquiagens da piedade fictícia! Rasgue estes disfarces de pseudossantidade! Cristão, mostre sua cara! Pare de ficar “orando nas equinas” e entre logo para o teu quarto! Pecador, não tenha medo de se arrepender e se curvar diante do Cristo que foi desfigurado para limpar os atavios pecaminosos da autojustificação. Se achegue mais a Jesus; toque em suas chagas; “contemplai-o e sereis iluminados” (Sl. 34:5). Quanto mais deixarmos a superfície do “eu” e do culto da aparência, e andarmos em direção a Cristo, olhando para Ele, mais experimentaremos a beleza da Vida, e mais “lindos”, com certeza, ficaremos.
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