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A BENÇÃO DO TRABALHO!

“O trabalho dignifica o homem”. Esta frase, proferida pelo calvinista Benjamin Franklin (1706-1790), ecoa através dos séculos como uma verdade suprema. Através do trabalho, o ser humano toma consciência de si e de seu valor. Pelo trabalho, o homem constrói sua realidade e se estabelece e pelo mesmo trabalho o homem transforma sua realidade e transcende! Se há uma coisa que distingue o ser humano dos outros animais é sua capacidade de trabalhar. Se o trabalho é o esforço físico ou mental com vistas a um determinado fim, por assim dizer, o trabalho não apenas dignifica o homem, mas também “dá sentido” a humanidade do homem!

Desde o Éden, a aliança de Deus com o primeiro homem incluía o trabalho. Deus formou o homem e lhe deu uma tarefa de cultivar e guardar o  jardim (Gn 2:15).  Nota que mesmo antes da entrada do pecado, o trabalho estava presente na humanidade como uma dádiva de Deus. No entanto, o que seria feito com prazer – cultivar e guardar o Jardim - , com a presença do pecado, passou a ser feito com sofrimento. O trabalho (do latim tripalìum 'instrumento de tortura') se tornou algo doloroso e representava a própria punição de desobediência do homem. Deus disse para Adão, agora caído: “maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”. Ainda:  No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gên 3:19). Observa que o trabalho em si não é  maldição, como tendem a afirmar alguns. Mas sim a dor e o sofrimento que passou a estar presente no processo do trabalho.

A partir de Moisés, Deus resgata o real significado do trabalho. No exercício do labor, o homem precisava compreender bem o principio da glorificação. Deus estabelece o sábado. Deus disse: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.  Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro” (Êxo 20:9-10). Deus vocaciona o homem para o trabalho, mas um trabalho que culmina no sábado, o descanso. Em fazendo assim, o ser humano estaria glorificando a Deus porque “porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20:11). A ideia básica do sétimo dia de descanso é trabalhar dentro do padrão estabelecido por Deus, visando assim Sua glória.

  Os reformadores deram maior ênfase ao principio do trabalho para a glória de Deus. Lutero se referiu ao trabalho como uma vocação divina (Beruf em alemão e Work em inglês), já Calvino afirmava que o trabalho era uma benção de Deus e devia ser feito para a glória de Deus e dignidade do homem. Hermisten Maia[1] comentando sobre o principio econômico de Calvino, explica que ele defendia três princípios éticos: o trabalho ou a diligencia, a poupança e a Frugalidade ou a sobriedade. Calvino sustentava que o cristão era livre para se dedicar ao trabalho (diligência) e adquirir bens (poupança), segundo ensina a Palavra: “Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus” (Ecl 5:19). Observa o ensino bíblico:  riqueza como fruto de trabalho. Isso  é benção de Deus.

No entanto, a sobriedade é o fator moderador dos recursos adquiridos. Ou seja, como cristãos devemos “usar moderadamente os recursos que Deus nos deu, para que não caiamos na torpeza do excesso, da vanglória e da arrogância (Rm 13:14)[2]”.  A ideia subjacente a este princípio é o contentamento. Calvino ensinava que o objetivo da prosperidade pelo trabalho não era a ganancia – viver em função da riqueza - e sim a moderação com contentamento. Como ensina as Escrituras: “Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra:  afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Pv 30:7-9). Este é o principio da sobriedade ensinada por Calvino – trabalhar sem perder a simplicidade; se contentar com o fruto do trabalho sem dar lugar a sórdida ganância.

Deus criou o homem  e o vocacionou para o trabalho. Como cristãos, devemos valorizar o trabalho e não comer o “pão da preguiça”(Pv. 30:29), porque, como explica o provérbio: “o preguiçoso morre desejando, porque as suas mãos recusam trabalhar” (Pv 21:25). Deus aborrece a negligência, mas certamente abençoa a diligência de Seu povo. O salmista compreendendo esta verdade fala: “Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem” (Sl 128:2). Para Deus, todo o trabalhador é digno de seu salário (1Tm 5:18) e em todo o trabalho há proveito (Pv. 14:23). O trabalho em si é benção de Deus, e por ele Deus nos concede o pão para alimento e a semente para semear (2Co 9:10). Pelo trabalho, Deus nos dá não apenas o que necessitamos para nossa subsistência, mas o bastante para multiplicação dos frutos. Isso é trabalho. Isso é benção de Deus!
Feliz dia do Trabalhador!


[1] Fundamentos da Teologia Reformada, pg.158
[2] Idem. Pg.162

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