A prática da injustiça está diretamente ligada à dissolução dos valores éticos
e morais e, sobretudo, ao descaso e abandono deliberado e persistente da
verdade.
A sociedade brasileira, ao
longo de sua história, tem coexistido com o problema das injustiças sociais. Desde
a colonização até os dias de hoje, o povo vem sofrendo as consequências da
exploração e da estratificação social. E como antítese dos ideais de liberdade,
igualdade e justiça, a realidade da pobreza, do preconceito e das desigualdades
sociais, demonstra claramente que o problema das injustiças sociais vai muito
além de uma simples questão social.
Como se não bastasse, a
sensação de injustiça se torna ainda mais evidente na população que convive com
as crescentes ondas de escândalos de corrupção no poder público, com a
impunidade dos corruptos e corruptores, sem falar daqueles que, legislando em
seu próprio favor, sacrificam toda a
sociedade fazendo leis injustas e imorais a fim de agradar uma pequeno grupo e
acabam institucionalizando a iniquidade e a injustiça.
O ensinamento da Palavra de
Deus é que a prática da injustiça está diretamente relacionada à ausência e
abandono da verdade. Foi isso que o profeta Isaias observou em seus dias. Vendo
o aumento da injustiça e da iniquidade, ele descreve que a verdade andava
“tropeçando pelas praças” (Is. 59:14). A ideia é que a verdade não estava presente
nos julgamentos. Sim, a verdade havia sumido, e a injustiça estava reinando. Com
isso fica claro o principio bíblico sobre a causa das injustiças - quando a verdade
é desprezada e abandonada, a justiça é deturpada e corrompida.
No entanto, a teologia bíblica afirma que o
homem está em oposição à verdade devido a sua condição de pecado. Deus criou o
homem como um ser moralmente “reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec.
7:29). Ao pecar contra o Senhor no Éden, Adão, e consequentemente toda a raça
humana, deixou seu estado de perfeição e passou a condição de total depravação.
Como está escrito em Gênesis “A terra
estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência; Viu Deus a terra, e eis
que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho
na terra” (Gn. 6:11-12).
A humanidade corrompida se torna alienada espiritual e socialmente, andando
de forma antagônica à natureza justa e boa de Deus,
praticando toda sorte de imoralidade e injustiça. O profeta Isaias descreve
depravação humana da seguinte forma: “Os
seus pés correm para o mal, são velozes para derramar o sangue inocente; os
seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; nos seus caminhos há desolação
e abatimento. Desconhecem o caminho da
paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; quem anda
por elas não conhece a paz. Por isso,
está longe de nós o juízo, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e
eis que há só trevas; pelo resplendor, mas andamos na escuridão.”(Is.
59:7-9). Corrompido
moralmente pelo pecado, o ser humano
abandona a verdade e corrompe a justiça.
A justiça é corrompida em três dimensões: a
corrupção ética, a corrupção política e a corrupção religiosa.
A corrupção ética. Ao deixar de lado a verdade, o homem se corrompe na
esfera ética. No mundo moderno, o conceito de ética (ethos) tem sido muito utilizado para se referir as regras e
preceitos que motivam, disciplinam e orientam uma pessoa ou um grupo. A ética
individual determina a ética social pela prática da justiça. Noutras palavras, ética é o que se cultiva moralmente no
caráter, e se expressa de forma ampla no contexto social; é o ‘imperativo interno’ que compele o homem a fazer o que é certo e
bom e viver à luz da verdade e da justiça.
No tempo do profeta Isaias, os valores éticos e morais estavam se
dissolvendo e comprometendo a pratica da justiça. O profeta explica que não
havia ninguém que clamasse pela justiça, nem que comparecesse em juízo em
defesa da verdade (Is 59.-4). Imperava a iniquidade. Devido ao abandono da
verdade, o povo estava cultivando uma ética desintegrada e corrompida, sendo
desonesto, falando mentira e praticando a injustiça.
Hoje em dia, muitos tentam
dissociar a ética do direito, afirmando que o que é legal não precisa ser
necessariamente ético. É preciso se opor veementemente a este pensamento
considerando que a ética e o direito não são temas excludentes entre si. Tudo
que é legal deve ser necessariamente também ético. A verdadeira justiça e o
direito só serão alcançados quando harmonizados com a ética individual e
social.
A corrupção Política. Além da ética, o
ser humano se corrompe na esfera politica. A prática de injustiças pode ser claramente
percebida quando o poder político é corrompido e quando os que governam
deturpam o direito, aceitam o suborno e negam a justiça ao justo (Is 5.23). Da
mesma forma, quando aqueles que têm o poder de fazer as leis, e que deveriam zelar
pela justiça e pela verdade, decretam leis injustas e de opressão, vedando o
direito dos pobres e dos aflitos (Is 10.1-2).
O profeta
Ezequiel comunica para os líderes de sua época. Ele se dirige para os príncipes
da nação e os exorta a praticarem a
justiça e o juízo, afastando a violência e a opressão; tendo balanças justas na
presença do Senhor (Ez. 45:9-10). De igual modo, Jeremias confronta os lideres
da sua geração a executarem o direito e a justiça, livrando o oprimido do
opressor e a não derramarem o sangue inocente (Jr. 22:3).
O cenário
politico brasileiro se identifica com a realidade que o texto bíblico está
descrevendo. Muitos políticos se corrompem e se tornam corruptores da justiça,
se envolvendo em falcatruas e esquemas políticos para seu próprio interesse e
benefício. Quando formulam leis injustas que contribuem para reforçar as
divisões de classes e que favorecem só os ricos e poderosos em detrimento dos
pobres e dos menos favorecidos; Quando formulam leis imorais que contribuem
para a desvalorização da vida humana, que cerceiam a liberdade de expressão e
de culto, e que promovem a desintegração
de valores essenciais da família e do matrimonio.
A corrupção espiritual. O povo também se corrompe na esfera espiritual. Os
lideres religiosos abandonaram a verdade e praticaram a injustiça. Jeremias
fala dos profetas e dos sacerdotes, cumplices na falsidade (Jr 5.30-31). E no tempo do profeta Miquéias, um problema
gravíssimo estava acontecendo. Os líderes estavam abominando o Juízo,
pervertendo a justiça e praticando a perversidade. Além do mais, as sentenças
eram dadas por suborno, os sacerdotes ensinavam por interesse pessoal, e os
profetas falavam por dinheiro (Mq 3.9-11).
Não é assim também hoje em dia? Falsos mestres têm
surgido distorcendo a palavra da Verdade para enganar o povo e deixá-lo na
ignorância; lideres centralizadores e dominadores que escondem a verdade do
povo para oprimi-lo; pastores que fazem o ministério por sórdida ganância e
assim exploram da simplicidade e da ingenuidade das pessoas.
As Escrituras afirmam que Deus ama a justiça e o direito (Sl. 33:5) e
pede ao homem que execute o juízo, segundo a verdade, em favor
da paz (Zc. 8:16). A ausência da verdade não é compatível com a justiça, pelo
contrário, a verdade é o fundamento
básico para a justiça na dimensão ética, política e
religiosa. Paulo diz que o amor de Deus “não se
alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1Co. 13:6). Assim, verdadeira
justiça só será alcançada pelo compromisso com a verdade. Verdade que é a Palavra
infalível de Deus (Jo. 17:17), o Logos encarnado (Jo. 1:14) que liberta o homem
de todo o pecado e injustiça (Jo. 8:32,36) e que o habilita a viver a justiça
de Deus.
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