O tempo não pára...

Mais um ano se passa...
Mal dá para acreditar!
O tempo passa voando!
Meu Deus, onde vamos parar?!Estava pensando um pouco sobre o tempo. É interessante esta nossa noção de tempo. Limitamo-nos a uma cronologia, presa a um espaço e movida por ações. Tudo que fazemos (ações), gira em torno de nosso espaço (onde estamos), e conseqüentemente é regido pelo tempo (No grego Khrónos: anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos, etc). Por exemplo, neste momento (tempo cronológico), estou escrevendo (ação) no meu escritório (espaço). E o mesmo acontece com aquele que está lá na Austrália (espaço), dormindo ou acordado (ação), neste exato momento (tempo cronológico).

Mas além desta idéia de espaço e ações, nos deparamos também com outra verdade: nossa corruptibilidade. Isto é, nós somos corruptíveis e estamos suscetíveis a este tempo! Nascemos... Crescemos... Envelhecemos-nos... Morremos. Estamos presos ao tempo. Não podemos fugir dele. Não é possível saltarmos para fora desta ampulheta atmosférica, nos desligando do tempo ou entrarmos no espaço sideral da alienação e do silencio atemporal, e dizer: o tempo parou. Não. Estamos nos movendo no tempo! Ele é determinante, significante e resultante!

Ah, observei também que as coisas acontecem – o tempo passa - e parece que estamos rumando para um lugar. É linear. O passado ficou para trás; o “ontem” já não existe mais. Estamos em direção dum futuro desconhecido à frente de nós. No entanto, a história mostra repetidamente, que nada é novo debaixo do sol. Tudo se repete. É cíclico. Ao mesmo tempo em que tudo é novo, temos a impressão de que tudo vai acontecer de novo! É meio confuso... Mas...

É verdade. O tempo não pára... E nós tampouco.

Outro ponto, as coisas que realizamos extrapolam o conceito de passado ou futuro, como se tivéssemos presos a realidades que não estão presentes agora – o passado como se não fizesse mais parte de mim, e o futuro como se não me pertencesse ainda! Os antigos gregos tinham uma forma bem peculiar de olhar para as ações no tempo: ou eram aoristas - definidas e pontileares; ou lineares - contínuas e durativas. A compreensão de que o que passou e o que virá, era determinada pelas ações! Eu fui, sou e serei o que faço ou não. Não existe pretérito nem vindouro, existe apenas um inexplorado e amplo presente que se estende no horizonte das nossas atividades. É assim, inserido nesta “maquina do tempo”, que me vejo.

Será este o nosso fim? Perecer no tempo?! Não. Lá no fundo, temos um anseio pela eternidade. Eclesiastes diz que tudo Deus fez maravilhosamente em seu tempo (a idéia de tempo não é khronos, e sim kairós) e “pôs na mente dos homens a idéia da eternidade” (Ec 3:11). Vivemos neste tempo em busca de algo além do tempo!

Eternidade. Esta outra noção de tempo é bem diferente do que estamos acostumados – o tempo na perspectiva de Deus. Já parou para pensar: Deus não é limitado pelo tempo, tal qual somos. Ele é eterno. E o que é a eternidade, senão a ausência do próprio tempo? Agostinho diz que os anos na presença de Deus são como um eterno dia sempre presente, de modo que “todas as coisas de amanhã e do futuro, de ontem e do passado, hoje as fazes, hoje as fizeste[1]”. Incrível não é?! É como se não houvesse passado nem futuro – aliás, o passado e o futuro são idéias nossas de tempo – e tudo fosse um eterno hoje, agora, diante de Deus!

Diante disso tudo, cheguei a uma conclusão inevitável e confortante: o meu tempo é apenas um instrumento para o tempo de Deus! Se sou limitado pelo tempo khrónos, sou invadido pelo tempo kairós, o de Deus! Deus entra no meu tempo, no meu espaço e na minha história. O amor de Deus é tão grande que Ele escolheu agir em meu tempo a fim de me conduzir a Sua eternidade; desceu ao meu espaço para me levar as Suas moradas celestiais; encontrou-me nas minhas limitações, para que pudesse contemplar e experimentar suas grandezas!

Saber que o tempo de Deus é diferente não me faz parar e ver as coisas acontecerem. Na verdade, me sinto impulsionado a olhar para além de meu próprio tempo e descansar na certeza de que embora o “amanhã” me seja desconhecido, Deus está lá; e embora o “ontem” tenha deixado marcas profundas em meu coração, Deus também está lá. Ele não é o deus eu-fui, ou o deus eu-serei, mas o Grande Deus Eu-Sou! Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Heb 13:8).

Feliz 2009! Que seja um novo tempo, o tempo de Deus!

[1] Confissões, Livro 1, cap. 6.