Ao longo da história, vemos que o homem vive de esperanças – uma necessidade psicológica de contemplar seu futuro. Grande parte de seu tempo, ele gasta projetando ou temendo seu amanha. As escolhas que ele faz ou a condição em que ele se encontra, devem-se, em grande escala, à realização de suas expectativas e seus desejos, especialmente quando estes demoram ou não em cumprir. Na maioria das vezes, a esperança humana é transitória e ilusória, causando desaponto e tristeza, e é nesse contexto que Deus se relaciona com o homem, assegurando-lhe de uma esperança confiante depositada sobre uma verdade inabalável - as Suas promessas.
O ser humano necessita de esperança. Ele naturalmente recorre a esperança para superar suas pressões e tensões do presente. Sua capacidade de esperar está intimamente ligada a seu senso de propósito, que o impulsiona e o motiva a olhar para frente. É fato comprovado entre psicólogos e antropólogos que a falta de esperança é a causa de muitas doenças psíquico-emocionais, como a angústia e a depressão, e a razão para a maioria dos casos de suicídio em todo o mundo. O indivíduo se nutre de expectativas a fim de saber onde ele deseja e precisa chegar, para que ele possa tomar decisões certas e lidar bem com seus medos e inseguranças, ambições e idealizações no presente.
No entanto, nem tudo que se espera é fácil de se alcançar. O homem e a mulher, ao tentar olhar para frente, percebem que há desafios e adversidades a serem superados. Os medos, as incertezas e as crises pessoais, estão constantemente presentes e tornam mais intensa a caminhada da esperança. No salmo 119:81, o salmista diz: “desfalece-me a alma, aguardando a Tua salvação; porém espero na tua palavra”. Este versículo mostra claramente as angústias daquele personagem ao aguardar a salvação e o livramento do Senhor. No entanto, a sua esperança estava firmada sobre a Palavra de Deus, que lhe dava força a prosseguir. Outro exemplo, é o de Abraão e Sara que aguardaram muitos anos o cumprimento da promessa que Deus lhes fizera que daria a eles um filho. Mesmo em meio a incertezas durante a espera, eles experimentaram a fidelidade de Deus que cumpriu o que havia prometido. As circunstâncias contrárias servem como depurador para avaliar se nossa esperança é mesmo algo transitório e ilusório, ou uma confiança segura no que cremos ser verdade!
Em contrapartida, os desejos quando alcançados enchem o coração de alegria. Ao mesmo tempo que expectativas podem ser frustradas, o ser humano deve possuir alvos desejáveis que nutrem uma esperança sadia. Provérbio 13:19 diz que “o desejo que se cumpre agrada a alma...”. Estes desejos, segundo o comentário da Bíblia de Genebra, “são concretizações de alvos dignos que trazem benefícios a vida1”. Vale a pena sonhar e esperar, quando estes desejos glorificam a Deus, fazem bem a nós e a outros em nossa volta. Não devemos desistir de esperar e continuar esperando. Deus quer que acreditemos num futuro melhor e nos esforcemos para alcançá-lo, para que nossa vida seja marcada pela alegria e realização e não pela tristeza e o desaponto.
As realizações da vida apontam para uma verdade ainda maior: Deus tem promessas para seus filhos. Da mesma forma como alcançamos o que acreditamos e desejamos, as promessas de Deus são alcançadas pela nossa confiante esperança em sua palavra. Em Gênesis 21:1 diz que “visitou o Senhor a Sara, como lhe dissera, e o Senhor cumpriu o que lhe havia prometido”. Deus não falha com suas promessas, de igual modo, nossa confiança e fé no que ele diz jamais serão frustrada. Calvino, com propriedade, explica a relação que se dá entre a fé e a esperança nas promessas de Deus:
Ora, se a fé é a segura convicção acerca da verdade de Deus, porque não pode mentir-nos, nem nos enganar, nem ser vã, quantos conceberam esta certeza de fato esperam, ao mesmo tempo, que Deus haverá de cumprir suas promessas, as quais, em sua convicção, não podem outra coisa ser senão verdadeiras, de sorte que, em suma, a esperança não pode ser outra coisa, senão a expectativa dessas coisas que a fé tem crido ser verdadeiramente prometidas por Deus. Desse modo, a fé crê que Deus é veraz; a esperança espera que, no tempo oportuno, ele exiba sua verdade. A fé crê que Deus é nosso Pai; a esperança espera que isso nos seja sempre demonstrado. A fé crê que a vida eterna nos foi dada; a esperança espera que um dia ela há de ser revelada. A fé é o fundamento sobre que a esperança repousa; a esperança nutre e sustém a fé.
A pós-modernidade é caracterizada pela falta de esperança ou uma falsa esperança. O positivismo humanista não dá respostas a seus dilemas e conflitos; o capitalismo selvagem não corresponde a suas expectativas e anseios. Há uma lacuna no homem pós-moderno marcada pela crise existencial, que é nada mais, nada menos que uma crise de esperança na Presença e nas promessas de Deus. O mundo precisa ouvir a verdadeira mensagem, a mensagem do Cristo ressurreto, “a Esperança da gloria” (Cl 1:27) e saber que “Deus está presente quando se aguardam as suas promessas em esperança e se esperam coisas novas. No Deus que chama o não-ser ao ser (Rm4:17) e o “não-ser-ainda”, o futuro se torna inteligível, porque pode ser esperado3”.
Assim, a humanidade depende da verdadeira esperança, que é imprescindível não apenas para alcançar objetivos na vida mas para dar sentido à vida. Esta esperança vai muito além de um pensamento desejoso ou de uma mera expectação de um acontecimento. Antes, ela é uma certeza que nos faz enfrentar os desafios de nossa existência. É esta esperança que temos em Deus, fundamentada Nele e em Suas palavras, a qual “não confunde porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5:5). Desta forma, confiando Nele que “chama a existência as coisas que não existem” (Rm 4:17), esperaremos desprendida e perseverantemente em Suas promessas que alcançaremos novos céus e uma nova terra.
Bibliografia
Moltmann, Jurgen - Teologia da Esperança. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
Calvin, John - The Institutes of the Christian Religion. Massachusetts: Hendrickson Publishers, 2009
A Bíblia de estudo de Genebra. São Paulo: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
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