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A construção do Caráter

Cada dia que passa fica mais escasso encontrar alguém de caráter. As virtudes, que são evidências do caráter, hoje, ao invés de serem regras, têm sido raríssimas exceções! Parece que é mais fácil nivelar todos por baixo, pelo o que se deixa de ser ou fazer, e abandonar de vez qualquer sentimento de “excelência”, “hombridade” e “obrigação”. Estamos sendo varridos violentamente por uma ideia de niilismo moral, onde tudo se reduz a um nada comportamental! A sensação que se tem é que não tem valido mais a pena prezar pelo nobre e pelo ético. Este contexto de relativização e banalização de valores tem contribuído para uma fragmentação conceitual e, consequentemente, prática do que significa caráter.

Se o homem é fruto do meio, como afirma a Sociologia, logo a formação do caráter está diretamente associada ao ambiente em que este indivíduo se encontra. A matemática é fácil: pessoa + meio = caráter. Uma ilustração para isso é quando uma criança aprende que se deve falar a verdade, porém em sua casa, vê seus pais se gabando de contar mentiras, o que você acha que ela, provavelmente, fará? Esta é fácil. Agora, imagina outra situação: nós sabemos que o roubo é mau, entretanto, repetidamente vemos muitos daqueles que governam nosso país se esbanjarem nas suas corrupções, e de forma impune. Fala a verdade, não dá vontade de ser político?!

A formação do caráter leva em consideração não apenas o meio em que o ser humano vive, mas também a sua história. Falar de caráter é lidar com a historia do indivíduo: o que ele foi no passado, o que ele é no presente e o que ele será no futuro. Certamente, o seu caráter no presente-agora é determinado pelas experiências acumuladas no passado-anterior e por suas expectativas projetadas para o futuro-posterior. É simplesmente impossível dissociar nossa história de nossa estrutura; divorciar nossa identidade de nossos sonhos! Noutras palavras, tudo o que priorizamos como essencial, ou não damos tanta importância; as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos e os rumos que seguimos estão intimamente ligados e giram em torno do caráter que temos e construímos.

Olhando assim, fica claro e fácil entender a diferença entre reputação e caráter. Às vezes, fazemos de tudo para preservar nossa reputação e nos esquecemos do mais importante: o caráter! A reputação é o conceito que alguém usufrui em um grupo. Tem a ver com o renome, a estima que se goza em determinado contexto. A reputação de um homem é determinada por seu status e sua posição, ou seja, o que ele tem. A ideia subjacente da reputação é manutenção da aparência, ao passo que a do caráter é a manutenção da essência!

É nesse sentido que a visão de caráter se difere da visão de reputação, porque seu foco está na essência do homem, em detrimento de sua aparência. Como alguém disse: “o caráter é aquilo que fazemos quando ninguém está vendo” (anônimo). Se pela reputação sou reconhecido pelo que tenho ou faço; pelo caráter sou reconhecido pelo que realmente sou. Nem toda reputação é pautada pelo caráter, como Elbert Hubbard (1856 - 1915) certa vez afirmou: “a reputação de muitos homens não conheceria seu caráter se o encontrasse na rua”.

Acredito que devemos nos preocupar mais com o que somos de verdade e não vivermos tanto em função do que aparentamos ser. Devemos retomar o caminho do caráter. O caminho do coração. Vai parecer meio retrógrado e anacrônico ser honesto, onde se cultua a hipocrisia; ser diligente, onde se louva a indolência; ser humilde, onde se prega a arrogância.

Precisamos voltar ao tempo em que nossas palavras eram a assinatura de nosso coração e as marcas de nossas mãos calejadas eram a prova de um “caráter aprovado".

Quando semeamos um pensamento, colhemos um ato; Quando semeamos um ato, colhemos um hábito; Quando semeamos um hábito, colhemos caráter; Quando semeamos caráter, colhemos um destino 
(Autor desconhecido).

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