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A Ética Evangelical Brasileira

Como tem sido identificada a ética dos Evangélicos no Brasil? Antes de responder, vamos pensar um pouquinho: Partindo do pressuposto que os princípios, crenças e valores morais bíblicos resultam num comportamento ético coerente com esses mesmos princípios, crenças e valores; entendendo também que estamos inseridos num contexto social, onde as nossas ações são fatores importantes para a formação da opinião pública (em alguns casos, nossas ações também são influenciadas pelos hábitos comuns de uma sociedade), de que maneira podemos classificar a pratica ético-espiritual e ético-social dos evangélicos em nosso pais? É possível perceber uma etiqueta (pequena ética) no contexto eclesiástico pós-moderno e sobretudo, dentro da igreja evangélica brasileira?

Em primeiro lugar, é crucial que entendamos o que significa Ética. A palavra ética, derivada do grego ethos (costume, hábito), significa um conjunto de valores que marcam um grupo; são regras e preceitos que motivam, disciplinam e orientam uma pessoa ou um grupo. Estas “regras e preceitos”, segundo o dicionário Houaiss, são “de ordem valorativa e moral ”, isto é, são princípios socialmente aceitos, determinantes e determinados pela conveniência pública. Noutras palavras, ética é prática do que cremos, ou do que cultivamos moralmente em nosso caráter, e isso expressado de forma ampla no contexto social.

Por muito tempo, os evangélicos foram, e ainda têm sido, vistos e conhecidos por aquilo que não faziam (não-práxis). Poderíamos denominar este comportamento como a ética da não-ação. Como protestantes evangélicos, éramos admirados por não beber, não fumar, não jogar, etc., enfim, conhecidos pelo que não fazíamos ou por nossa falta de ação. É como se fossemos uma antítese ética da cultura brasileira; o “não necessário” para o equilíbrio da sociedade. Essa não-ação, erroneamente concebida, foi “valorizada e apontada como um traço de santidade, e até como uma característica importante para o cristão”. Assim, equivocadamente, devido a ausência de uma reflexão séria e profunda, um envolvimento comprometido e não-alienatório, passamos a ser classificados e etiquetados mais pelo que deixamos de fazer – a ética antitética – do que pelo que fazemos: nossa práxis.

No entanto, olhando mais profundamente, podemos também notar uma incongruência na ética do evangelicalismo brasileiro. A ruptura entre o discurso (o que pregamos) e a práxis (o que fazemos) é evidente e parece que temos buscado preencher este espaço com um relativismo ético-espiritual, que tem formatado uma mentalidade indiferente àquilo que realmente importa. A esta dicotomização, também tenho chamado de “conflito de realidades”, que se caracteriza por uma mensagem sem relevância contextual; uma escatologia dissociada da real salvação; uma vida de carisma destituída de caráter! E o que temos visto? Muitos “profetas de visões de seus próprios corações” e pouquíssimos profetas que têm falado o que “vem da boca do Senhor”(Jr.23:16).

Certamente, o grande passo para resolvermos esta questão ética dos evangélicos brasileiros é superarmos a dialética existente e dialogarmos de forma coerente. De certa forma, é um processo de fora para dentro. Se a salvação acontece de dentro para fora, a perspectiva ética é trabalhada de fora para dentro: do que fazemos para o que somos! É olhando para os frutos (ações) que se reconhece a árvore (essência)! Continuando nesta analogia: é praticamente impossível, ou no mínimo incoerente, uma arvore boa produzir frutos ruins, e vice-versa! Da mesma forma, e no final das contas, a nossa ética sempre vai corresponder ao que realmente pensamos e somos.

Neste momento, surge uma pergunta: qual o limite da ética cristã? Será que apenas ser “politicamente correto” é suficiente? Acredito que não. Enquanto cultivarmos a mentalidade do “politicamente correto” continuaremos a assistir aos infindáveis escândalos e a nos envergonhar de muitos que se dizem evangélicos que pregam a integridade, mas são corruptos (mensalão, etc.), que pregam a pureza sexual, mas são pervertidos (pastores pedófilos e adúlteros), que usam a Bíblia para anunciar a salvação em Cristo, e a mesma Bíblia para esconder seus dólares fraudados! Eu não quero me colocar na posição de juiz (e longe de mim tal coisa!), o Juiz é Deus. Todavia, se não pararmos para pensar onde estamos e o que estamos fazendo, e denunciar o que há de errado (nem que isso comprometa nosso espírito corporativista) dificilmente assistiremos as “boas noticias” daqueles que são o remanescente fiel, que são testemunhas (mártires) do Cordeiro.

Voltando à pergunta sobre os limites da ética Cristã, a resposta é simples: o próprio Cristo! Se estamos em Cristo, devemos andar com Ele andou (1Jo.2:6). Agora pergunto: como Cristo andou? Será que nos lembramos dos passos de Cristo? Ao abrir mão de Sua glória eterna, se esvaziar de seus direitos e se encarnar, Cristo estava andando; Ao amar a Deus sobre todas as coisas, e com tudo o que Ele tinha e era, Ele estava andando; ao ter compaixão das misérias de nosso coração, e nos tocar quando éramos leprosos espiritualmente, Ele estava andando; ao levar a sua própria cruz, negando a si mesmo, em prol da vontade soberana do Pai, Ele estava andando; e ao ressurgir ao terceiro dia, vivendo para o Pai e Sua gloria, em novidade de vida, Ele estava andando! Esta era a ética de Cristo, e uma ética sem Cristo, é realmente uma ética “sem Graça”.

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