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A sede da Religião

religiãoA religião tem sido um tema de destaque atualmente. Em todos os becos e ruelas de nossa sociedade é possível travar uma boa conversa, por um bom tempo, sobre algum tópico religioso. Parece que as mordaças do racionalismo desenfreado e do agnosticismo estão se desfazendo e a metafísica, que fora tão incisivamente confrontada no passado não muito longínquo, está retomando seu lugar de glória. O homem mais uma vez descobre que o transcendente, embora incompreensível, tem se tornado algo relevante às suas necessidades.
Os antropólogos e sociólogos afirmam que o homem é um ser “incuravelmente religioso”. Este fenômeno o acompanha através dos tempos, por todos os lugares e em todas as situações. De certa forma, a religião é uma das instituições mais antigas da sociedade. É simplesmente impossível estudar sobre qualquer aspecto da história, da identidade cultural ou das aspirações do homem sem levar em conta o quesito da sua religiosidade inerente.
A fenomenologia (manifestações empíricas aos sentidos humanos) da religião, sempre esteve presente nas grandes questões revolucionárias da humanidade, desde as civilizações priscas (antigas) e remotas até as mais modernas e desenvolvidas, e, ao que tudo indica, não será diferente daqui por diante. Desta maneira o homo religionis se move em direção ao metafísico em busca de uma transformação para sua realidade.
Que o homem é um ser religioso, isto é fato inegável. Agora, onde se encontra a sede da sua religiosidade? É possível determinar em que dimensão do ser humano é cultivado e processado sua religiosidade? Existem três linhas de raciocínio que aborda este tema. A primeira linha afirma que o intelecto é a sede da religião no homem. Pois é através do intelecto que o homem conhece o seu mundo e interage com ele. A segunda linha afirma que a emoção seria este loco religionis, uma vez que a religião passa por uma “experiência mística e empírica” que transcende a racionalidade. É por isso, justificam os adeptos a este pensamento, que a religião se torna uma necessidade real diante de condições emocionais prementes como o medo e a culpa dos homens. Por fim, a terceira linha declara que a religiosidade do homem é fruto da sua vontade. Ou seja, o homem é um agente livre, independente e auto determinante e, portanto, a religião é um subproduto de sua capacidade volitiva.
Embora as manifestações religiosas abranjam todas as dimensões do homem no seu intelecto, suas emoções e sua vontade, pode-se perceber que o fator religião reside num plano ainda mais profundo, regendo as motivações e propósitos dos homens bem como determinando suas perspectivas de vida e suas práticas sociais: a moralidade.
Deus criou o homem e o fez um ser moral, portanto a sede da religião é onde se encontra também a sede da moral. A palavra moral, do latim MORES, significa originalmente costume, hábito. É um “sistema organizado de regras de conduta para os grupos humanos[1]”. O valor primordial da Moral é a concepção do “Bem” e partindo daí, a construção de diretrizes normativas e convenientes que devem predominar sobre o povo a fim de se alcançar a moral.
A Moral se distingue da Ética. Se a moral é o conjunto de normas sociais ou um sistema de comportamento adequado e aceito pela comunidade – os costumes, a ética são os valores e princípios construídos em função da moral. A moral é determinada pela cosmovisão de um povo (visão de mundo e da realidade) e determina os valores e crenças deste povo, formatando um ethos (ética) social adequado e equilibrado.
Esta afirmação encontra um campo minado intelectual e uma pergunta então surge: é possível ter uma moral sem a religião? Ou será que toda religião implica necessariamente uma moral?
Obviamente, a moral e a religião são temas distintos, no entanto, estão intimamente ligados. Bertrand Russel, Filosofo ateu, comentando sobre a filosofia de Aristóteles, admite que “A ética de Aristóteles é, em todos os pontos, consistente com sua metafísica. De fato, suas (Aristóteles) teorias metafísicas são a expressão de um otimismo ético[2]”. Em outras palavras, a sua perspectiva metafísica ou transcendente estava intimamente relacionada com sua praxis moral e ética. Para ele, a existência de um Ser imutável, perfeito, eterno e bom, determinava uma ética boa, justa, organizada e estável.
Vendo por esta perspectiva, devemos afirmar que a religião é indivorciável da moral, e a religiosidade (a prática da religião) inseparável da moralidade. A religião se fundamenta psicologica e socialmente nos princípios da MORES e vice-versa. É impossível dissociar a metafísica da moral, ou a religião da moralidade. A nossa teologia (conceito sobre Deus) influencia e determina nossa práxis ético-social. Talvez alguns ateus não concordem com isso, porque eles fazem separação entre o que eles creem - mais precisamente: “não creem” - e o que fazem. No entanto, é importante ressaltar que até para ser ateu é preciso ter fé em alguma coisa!

[1] Hugo Schlesinger, Dicionário Enciclopédico das Religioes, vol 2, pg 1809
[2] Bertrand Russel – History of Western Philosophy, pg. 194

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