A Evangelização é uma prioridade na missão da igreja. A Evangelização significa simplesmente anunciar o evangelho de forma fiel, clara, contextualizada e sincera. Jesus ensinou seus discípulos sobre a prioridade da proclamação: Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado (Lucas 4:43). E com a mesma intensidade, entendendo a prioridade da missão, Ele envia Sua Igreja: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura (Marcos 16:15). O Comitê de Lausanne define a Evangelização da seguinte forma: “...é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a Ele pessoalmente, e, assim se reconciliarem com Deus[1]”. Na soteriologia, o nome dado a proclamação do Evangelho é vocação externa.
O QUE É VOCAÇÃO EXTERNA?
Segundo Berkhof, a Vocação externa consiste na “apresentação e oferta da salvação em Cristo Jesus ao pecadores, juntamente com uma calorosa exortação a aceitarem a Cristo pela fé, para obterem o perdão dos pecados e a vida eterna”. Assim, a vocação externa é a obediência da Igreja de Cristo em proclamar todo o Evangelho, a todas as pessoas indistintamente, em todos os lugares.
OS ELEMENTOS DA VOCAÇÃO EXTERNA
- Apresentação dos fatos do Evangelho e da doutrina da redenção. A obra que Cristo realizou precisa ser explicada de forma cuidadosa. Isso de forma clara, relevante e contextualizada. Não significa apenas falar de Cristo, mas falar do que Ele realizou de modo que a pessoa para quem estamos expondo entenda clara e objetivamente que ela é o alvo do amor de Deus.
- Convite ao pecador para aceitar a Cristo com arrependimento e fé. O convite honesto e sincero precisa ser feito para o interlocutor. Jesus deu o exemplo, quando disse: vinde a mim (Mt. 11:28). A esse respeito Antony HOekema diz:
“o pregador não pode minimizar a seriedade do pecado, mas precia enfatizar a importância do genuíno arrependimento. Deve ser deixado claro que fé não é apenas um assentimento intelectual a certas verdades, mas a aceitação de Cristo com todo o ser, incluído compromisso de serviço”(Antony Hoekema – Salvos pela Graça, pg. 76).
- Promessa de perdão e salvação. A pregação do Evangelho deve ser acompanhada pela promessa de salvação para aqueles que responde propriamente ao chamado. Mas há uma condição nessa promessa: arrependimento e fé.
CARACTERÍSTICAS DA VOCAÇÃO EXTERNA
- Geral ou Universal. A pregação do Evangelho de ser direcionada a todos os que ouvem indistintamente. Não podemos ser seletivos na proclamação do Evangelho. Alem de ser uma clara desobediência ao mandato de Cristo é injusto e discriminatório. Cristo ordena para pregarmos a todos, sem distinção! Todos são alvo da proclamação do Evangelho!
Devemos pregar para eleitos e não eleitos!
Até porque não sabemos que são os eleitos de Deus! Dentro disso é bom esclarecer: nem todos vão aceitar a mensagem ou vão responder positivamente. Contudo isso não significa que a pregação terá sido em vão. Pois entendemos que a proclamação do Evangelho, para os eleitos, tem o fim para a salvação, mas para os não eleitos, para a condenação. Ler:
a) 1 Coríntios 1:18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.
b) João 3:17-18 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Deus deseja seriamente a salvação de todos os que ouvem o Evangelho.
- É um chamamento feito com seriedade e boa fé. Berkhof diz que “quando Deus chama o pecador para que aceite a Cristo pela fé, Ele o deseja ardentemente; e quando Deus promete aos que se arrependem e creem a vida eterna, sua promessa é fidedigna” (Berkhof – Teologis Sistematica, pg. 464). Da mesma forma, precisamos fazer com seriedade a proclamação do Evangelho. Os Canones de Dort falam da boa intenção na pregação do Evangelho:
A promessa do Evangelho é que todo aquele que crêr no Cristo crucificado não pereça, mas tenha a vida eterna. Esta promessa deve ser anunciada e proclamada sem discriminação a todos os povos e a todos os homens, aos quais Deus, em seu bom propósito, envia o Evangelho com a ordem de que se arrependam e creiam (Canones de Dort – Cap. 2, Artigo 5)
A pregação deve ser feita com seriedade. A esse respeito, os cânones de Dort declara:
Tantos quantos; são chamados pelo Evangelho, o são seriamente. Porque Deus revela séria e sinceramente em sua Palavra o que lhe agrada, a saber, que aqueles que são chamados venham a ele. Ele também seriamente promete descanso para a alma e vida eterna a todos que a ele vierem e crerem (Canones de Dort – Cap. 3, Artigo 08).
Neste ponto, entre os teólogos reformados tem havido certa discordância. Alguns, da linha do teólogo reformado holandês Herman Hoeksema (1886-1965), afirma que Deus não pretende salvar a todos mas, tão somente os eleitos. Portanto esta ideia de oferta é inconsistente com a pregação do Evangelho.
Contudo, como saberemos quem são os eleitos? Não devemos pregar o Evangelho apenas para eleitos, mas para todos, mesmo para aqueles que não são eleitos, com a mesma paixão como se eles fossem eleitos! Deus não tem prazer na morte do perverso (Ez. 18:23).
Por que alguns não vêm para o Evangelho? Os cânones de Dort trazem uma resposta quanto a isso.
Muitos são chamados através do ministério do Evangelho, mas não vêm nem são convertidos. A culpa não é do Evangelho, nem de Cristo, que é oferecido pelo Evangelho, nem de Deus, que os chama através do Evangelho e inclusive lhes confere vários dons. A culpa é deles mesmos. Alguns não aceitam a Palavra da vida por descuido. Outros de fato a recebem, mas não em seus corações e, por isso, quando desaparece a alegria de sua fé temporária, viram as costas à Palavra. Ainda outros sufocam a semente da Palavra com os espinhos dos cuidados e prazeres deste mundo e não produzem nenhum fruto. Isto é o que o Salvador ensina na parábola do semeador (cf. Mt 13). (Canones de Dort - Cap.3, Artigo 09)
- Ela precede a vocação interna, ou o chamado eficaz.
A pregação deve ser direcionada a todos, com seriedade, mas a resposta positiva depende exclusivamente da obra do Espírito Santo. É o Espírito Santo que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8). Mas ao mesmo tempo, é pela pregação do Evangelho que a fé vem ao coração dos Eleitos – a fé vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus (Rm. 10:17). Desta forma, a vocação externa precede a vocação interna, isto é: o chamado geral precede o chamado eficaz! Quanto a isso J.I Packer diz:
“como o chamado exterior de Deus à fé em Cristo é comunicação através da leitura, pregação e explanação do conteúdo da Bíblia, o Espírito Santo ilumina e renova o coração dos pecadores eleitos, de modo que eles compreendam o Evangelho e o abracem como verdade de Deus, e Deus em Cristo torna-se para eles objeto de desejo e afeição” (J.I Packer – Teologia Concisa, pg.136).
Conclusão
A igreja é para a missão como o fogo é para queimar! A missão não é uma opção, mas uma questão de essência. A igreja não faz missão, ela é missão. Ou ela está engajada na missão ou ela deixou de ser igreja!
[1] Serie Lausanne 4, pg 23
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