O movimento evangélico brasileiro tem-se destacado
muito pelo seu crescimento numérico. Crescimento tal que tem forçado uma nova perspectiva
eclesiástica, ou seja, a mentalidade de como ser e fazer igreja. A
problemática que nos deparamos aqui é que muitos líderes tem surfado uma onda
muito perigosa! Levados pela enxurrada de valores consumistas e pragmatistas, a
preocupação de muitos deles foca-se em como crescer apenas quantitativamente, manter a estrutura funcionando para
crescer mais, e criar algo abrangente para atender a necessidade da massa. A princípio não há nada de errado nisso. Uns
até se justificam biblicamente, citando Atos 2:47: “Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”. Quero abrir um
parêntese aqui dizendo que o crescimento em si não é negativo, e “ambicionar” uma
igreja grande e imponente, a priori, não quer dizer nada de mais. No entanto,
se fizermos um contraste com o ministério de Cristo, veremos que a forma como ele lidava com os números,
isto é, com as grandes multidões, pode ser bem diferente de como temos visto e
lidado com a questão das multidões da igreja evangélica brasileira de hoje.
Jesus tinha compaixão das multidões e as ensinava. Na verdade, os números podem nos revelar algumas
verdades: o anseio de um povo, a expectativa de uma sociedade, o desejo de
mudança, a sua revolta com os status quo, etc. O ministério de Cristo atraia
muitas pessoas que vinham para ouvir de seus ensinamentos e ser curadas por
ele. As Escrituras falam que ele olhava para as multidões e sentia compaixão
por elas porque elas pareciam ovelhas sem pastor (Mt. 9-36). Jesus via a
necessidade do povo. Ele não evitava as multidões, antes, as chamava para si
para pastoreá-las e assim serem transformadas pelo seu poder, amor e suas
palavras. Embora essa fosse a abordagem
dele para com as multidões, ele reconhecia os perigos de viver em função dos
números!
Jesus
não era servo das multidões. Ainda que ele alimentasse as multidões
física e espiritualmente, em muitas ocasiões ele as deixava as, não se
prendendo a elas, para atender a necessidade de pessoas específicas: purificar um leproso (Mt 8:1-4), curar um cego (Lc 18: 35-43), compadecer-se de
um pai cujo filho estava possesso (Mt 16:14-21), aceitar o convite de um “pecador” chamado Zaqueu (Lc.
19:1-10), etc. Jesus não permitia que o aglomerado da massa lhe impedisse de
ver a necessidade de indivíduos. Ele até contou uma parábola de um pastor que
deixou noventa e nove ovelhas no aprisco e foi atrás de uma que estava perdida,
mostrando a todo o tempo que ele não estava a serviço das aglomerações, mas seu
foco também estava nas pessoas especificas, com suas necessidades específicas.
Jesus confrontava as multidões. Jesus, conhecendo a motivação dos homens, chega
a confrontar as multidões que lhe pediam sinais (Jo 6:30). Depois de um de seus
discursos, todos da multidão e muitos discípulos o abandonam (Jo. 6:22-71). Por
que? Eles não tinham sido alimentados por Jesus (Jo. 6:1-15) e tinham visto
grandes milagres de suas mãos? A questão não é essa. O Senhor sabia o que
motivava a multidão, o desejo de ver e ter. Mas isso, quando confrontado pela
mensagem do Evangelho, pode esperar, não tem sustentabilidade alguma. O povo
sumiu! Por isso que ele confronta os números, nos ensinando uma lição importantíssima:
não devemos viver em função da multidão!
Infelizmente, hoje temos muitos líderes em busca
apenas de números. Quantidade em detrimento da qualidade. Números apenas ao
invés de pessoas pastoreadas! Aglomerados de pessoas, templos gigantescos, igrejas
abarrotadas... tudo focando o imponente, o quantitativo. Mas quando olhamos
para Jesus, olhamos para o Pastor que
não sacrificou uma única ovelha desgarrada em prol de noventa e nove! Jesus não se prendia a números, mas aos
corações das pessoas! O que para nós parece sinônimo de sucesso espiritual é na verdade,
para Jesus, sinal de declínio.
Precisamos olhar para o modo como Jesus pastoreava as pessoas, e não os
números. Por que, pra falar a verdade, nem sempre a voz da multidão é a voz de
Deus!
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