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A relação entre Igreja e o Magistrado Civil


       Estamos em período de eleição  para escolha de nossos principais governantes, e dentre eles, o próximo, ou próxima, presidente do Brasil.  Nunca na historia politica brasileira, o espaço eclesiástico foi tão disputado por todos os candidatos. Ao que tudo indica, como já se afirma por aí, que as eleições deste ano vai ser decidida nos “altares das Igrejas”. Agora, uma pergunta precisamos fazer: Será que a Igreja de Cristo tem entendido qual sua missão junto ao magistrado civil? Qual deve ser a relação entre a Igreja e o governo civil?                  
      O reformador João Calvino afirmou que Deus estabeleceu um duplo governo no homem, a saber, o governo espiritual e o governo civil. O governo espiritual trata-se do reino espiritual de Cristo que tem como seu agente visível a Igreja, já o governo civil trata-se do Estado na sua administração política. Estes dois ofícios ordenados por Deus são de natureza e função distintas. A igreja tem a função de “conservar o culto divino externo, a doutrina e religião em sua pureza, o estado da Igreja em sua integridade e levar-nos a viver com toda justiça”, já o governo civil, por sua vez, tem o poder de administrar a sociedade, mantendo a ordem cívica e promovendo a justiça social.
      No entanto, apesar de afirmar a distinção destes governos, Calvino entende que deve haver uma relação de compatibilidade entre si e que eles não devem ser contrários. O pressuposto básico defendido pelo reformador é que o Estado é um oficio ordenado e instituído por Deus: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rom 13:1 ARA). Entendendo que as autoridades “procedem de Deus” e são “por ele instituídas”, o pensamento de João Calvino segue a coerência de que o Estado e a Igreja, embora diferentes em natureza e função, ambos têm o mesmo objetivo: executar a vontade divina. A Igreja executa a vontade divina na sua esfera de poder, e o Estado executa a vontade divina na sua esfera de poder. E esta vontade de Deus, tanto para a Igreja, quanto para o Estado, não pode ser contraditória.
     Assim, há uma relação coesa, embora contrastante, entre o magistrado e a Igreja.  O magistrado, além de ser guardião das leis e da paz, mantenedor da ordem e promotor da justiça social, deve estabelecer leis que são coerentes com a moralidade divina, que garantam os direitos do povo e, que também protejam a verdadeira religião. Por outro lado, a Igreja, como que vivendo debaixo da temporalidade das leis civis, além de honrar e estimar o magistrado civil, sendo-lhe submissa, também funciona, para o Estado, como um agente de aconselhamento – dando noticia ao magistrado acerca daquilo que precisa ser corrigido - e reprovação.
     Desta forma conclui-se que a Igreja deve obediência ao magistrado e a todos os governantes, mesmo àqueles que são maus e exercem o poder de forma coercitiva, no entanto, com esta exceção: enquanto estes permanecerem fieis às leis de Deus. Do contrário, se eles ordenam algo contra Deus, que “não seja de nenhuma relevância e valia”, e assim permanece o princípio: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29)

Servos de Números!


O movimento evangélico brasileiro tem-se destacado muito pelo seu crescimento numérico. Crescimento tal que tem forçado uma nova perspectiva eclesiástica, ou seja, a mentalidade de como ser e fazer igreja. A problemática que nos deparamos aqui é que muitos líderes tem surfado uma onda muito perigosa! Levados pela enxurrada de valores consumistas e pragmatistas, a preocupação de muitos deles foca-se em como crescer apenas quantitativamente, manter a estrutura funcionando para crescer mais, e criar algo abrangente para atender a necessidade da massa.  A princípio não há nada de errado nisso. Uns até se justificam biblicamente, citando Atos 2:47: “Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”. Quero abrir um parêntese aqui dizendo que o crescimento em si não é negativo, e “ambicionar” uma igreja grande e imponente, a priori, não quer dizer nada de mais. No entanto, se fizermos um contraste com o ministério de Cristo,  veremos que a forma como ele lidava com os números, isto é, com as grandes multidões, pode ser bem diferente de como temos visto e lidado com a questão das multidões da igreja evangélica brasileira de hoje.  
Jesus tinha compaixão das multidões e as ensinava. Na verdade, os números podem nos revelar algumas verdades: o anseio de um povo, a expectativa de uma sociedade, o desejo de mudança, a sua revolta com os status quo, etc. O ministério de Cristo atraia muitas pessoas que vinham para ouvir de seus ensinamentos e ser curadas por ele. As Escrituras falam que ele olhava para as multidões e sentia compaixão por elas porque elas pareciam ovelhas sem pastor (Mt. 9-36). Jesus via a necessidade do povo. Ele não evitava as multidões, antes, as chamava para si para pastoreá-las e assim serem transformadas pelo seu poder, amor e suas palavras.  Embora essa fosse a abordagem dele para com as multidões, ele reconhecia os perigos de viver em função dos números!
 Jesus não era servo das multidões. Ainda que ele alimentasse as multidões física e espiritualmente, em muitas ocasiões ele as deixava as, não se prendendo a elas, para atender a necessidade de pessoas específicas: purificar um leproso (Mt 8:1-4), curar um cego (Lc 18: 35-43), compadecer-se de um pai cujo filho estava  possesso (Mt 16:14-21), aceitar o convite de um “pecador” chamado Zaqueu (Lc. 19:1-10), etc. Jesus não permitia que o aglomerado da massa lhe impedisse de ver a necessidade de indivíduos. Ele até contou uma parábola de um pastor que deixou noventa e nove ovelhas no aprisco e foi atrás de uma que estava perdida, mostrando a todo o tempo que ele não estava a serviço das aglomerações, mas seu foco também estava nas pessoas especificas, com suas necessidades específicas.
Jesus confrontava as multidões. Jesus, conhecendo a motivação dos homens, chega a confrontar as multidões que lhe pediam sinais (Jo 6:30). Depois de um de seus discursos, todos da multidão e muitos discípulos o abandonam (Jo. 6:22-71). Por que? Eles não tinham sido alimentados por Jesus (Jo. 6:1-15) e tinham visto grandes milagres de suas mãos? A questão não é essa. O Senhor sabia o que motivava a multidão, o desejo de ver e ter. Mas isso, quando confrontado pela mensagem do Evangelho, pode esperar, não tem sustentabilidade alguma. O povo sumiu! Por isso que ele confronta os números, nos ensinando uma lição importantíssima: não devemos viver em função da multidão!
Infelizmente, hoje temos muitos líderes em busca apenas de números. Quantidade em detrimento da qualidade. Números apenas ao invés de pessoas pastoreadas! Aglomerados de pessoas, templos gigantescos, igrejas abarrotadas... tudo focando o imponente, o quantitativo. Mas quando olhamos para Jesus, olhamos para o Pastor  que não sacrificou uma única ovelha desgarrada em prol de noventa e nove!  Jesus não se prendia a números, mas aos corações das pessoas! O que para nós parece  sinônimo de sucesso espiritual é na verdade, para Jesus, sinal de declínio.  Precisamos olhar para o modo como Jesus pastoreava as pessoas, e não os números. Por que, pra falar a verdade, nem sempre a voz da multidão é a voz de Deus!

 

 

 

 

 

A MENTIRA

A mentira é, sem dúvida, um dos “pecados” que mais detestamos – especialmente quando nós somos a vítima! Podemos até tolerar algumas falhas e ofensas contra nós, mas quando envolve a mentira, tudo fica muito, mas muito mais difícil. Nos sentimos “apunhalados” e traídos quando as pessoas que amamos nos enganam; nos magoamos profundamente quando as pessoas são fingidas nos relacionamentos; ficamos arrasados com a falta de sinceridade e a falsidade; nos revolta quando somos iludidos com “meias verdades” de políticos ou quem quer que seja; temos pavor quando distorcem a verdade a nosso respeito a fim de nos prejudicar. Enfim, não suportamos a mentira; ela causa em nós uma ojeriza!
Aristóteles certa vez disse: “Que vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade". É verdade. A mentira afeta nossa capacidade de confiar novamente. Com isso, quero dizer que a dor causada pela falta da verdade, ou por sua distorção, é diretamente proporcional ao nível de confiança que tínhamos. Quanto maior a confiança, maior será a dor da decepção. Esta é a mais pura verdade. Perdemos a confiança naquele que não consegue sustentar uma verdade! E quantos bons relacionamentos não têm sido destruído por causa da mentira...
Além disso, há aquelas mentiras já “institucionalizadas”, aquelas que todo mundo já pressupõe como verdade. Geralmente estas mentiras vêm como histórias e lendas de um povo, costumes, crenças e pressupostos. Por exemplo, no período do Brasil escravocrata, surgiram algumas lendas que eram, na verdade mentiras criadas pelos senhores das terra a fim de causar medo nos escravos e assim manter o domínio sobre eles. Por exemplo: comer leite com manga. Eles diziam que fazia mal comer manga com leite. A razão não era científica, muito menos medicinal, mas simplesmente econômica.  Na realidade, eles não queriam que os escravos bebessem o leite para não afetar a produção do “ouro branco”. Já as mangas eram produzidas naturalmente, e os escravos eram liberados para comer livremente. Outra lenda mentirosa era a do lobisomem. Era dito que este mostro metade homem metade lobo vagueava pela noite e devorava pessoas. Esta lenda, na realidade, era um mecanismo usado pelos senhores de escravos para infundir medo nos escravos e assim eliminar ou pelo menos reduzir qualquer possibilidade de eles fugirem! Muitos governantes e até líderes religiosos se aproveitam do poder destas mentiras, ou criam outras tais como a mentira do “pão e circo”,  para dar continuidade a suas manipulações sobre a massa!
Mas o que é a mentira, afinal? Os gregos antigos empregavam dois termos que exprimiam o sentido de mentira: pseudes e sophisma. A ideia básica de pseudes é a de adulterar ou falsificar algo verdadeiro; daí o sentido de falsidade e engano. Por exemplo, uma pseudomarturia era uma testemunha falsa, que contrariava ou alterava a realidade dos fatos a fim de enganar e assim induzir outros ao erro. Baseado nisso, podemos definir a mentira como uma “afirmação contrária à verdade a fim de induzir ao erro”.  Isto significa que ela é o contrário de ou a distorção da verdade. Se a verdade é o que está em conformidade com a lógica e os fatos da realidade, a mentira é uma afirmação contrária ou parcialmente contrária a verdade. Falo “parcialmente”, porque muitas vezes, a mentira pode vir também “mascarada” de algo bom e atraente – até o próprio satanás se transforma em anjo de luz (2Cor 11:14). 
O termo sophisma indicava uma mentira com pressupostos filosóficos. Os sofismas poderiam ser chamados de “falsas verdades”. Para os pensadores, o fundamento da verdade lógica era, em última análise, o processo dialético de teses e antíteses a fim de se chegar a síntese da pura verdade. Porém quando os métodos dialéticos eram usados de forma enganosa e capciosa, eles diziam que estavam usando o argumento sofismático. Por isso, o sofisma era uma “falsa” verdade porque era formado de premissas verdadeiras mas que resultava numa síntese falsa. Por exemplo: todo homem é um ser humano; a mulher é um ser humano; logo todo o homem é mulher! Observa que as duas primeiras premissas são verdadeiras, mas a síntese das duas é falsa, portanto um sofisma! Citarei agora outro exemplo de um sofisma sutil que resultou até em um dogma da igreja católica. O raciocínio é este: Maria é a mãe de Jesus (verdade!); Jesus é Deus (verdade!); logo Maria é a mãe de Deus (falso!).  Assim, segue-se que o sofisma é o argumento ou raciocínio que produzia uma ilusão da verdade; ele usava as regras da lógica para fins de distorção da própria lógica e por fim da verdade. Embora tinham aparência de verdade, os sofismas eram inconsistentes com a verdade.
Mas a mentira, por mais “bonitinha” que seja, é sempre mentira e seu efeito será sempre maléfico. Por mais que tenha “aparência” de verdade ela será sempre uma distorção da verdade, e a mente humana continuará a rejeitá-la. Isto pressupõe que o ser humano abomina a mentira porque ele foi criado com um anseio pela verdade e para se alegrar com a verdade. Em suas confissões, Agostinho escreveu: “pergunto a todos se preferem encontrar a alegria na verdade ou na falsidade?”. Ele faz esta pergunta justamente para pontuar que ninguém se alegra com a mentira, e diz que todos preferem ser felizes na verdade. Daí ele chega a uma conclusão: “a vida feliz é a alegria que provém da verdade. Tal é a que brota de Ti, ó Deus...” (Agostinho. Confissões, Livro 10, 23). Seu argumento é simples e objetivo: Deus fez o homem com um anseio pela verdade; e como isto é algo inerente nele, o ser humano só encontra real alegria na verdade de Deus. Por esta razão, o homem detesta a mentira!
Isso nos leva a concluir que o ato de mentir não é um problema simplesmente comportamental ou psicossocial. Parece que diz respeito a pressupostos do coração, os quais norteiam os valores e crenças do indivíduo até chegar aos comportamentos. Em outras palavras, a mentira é um problema moral, como resultado dos efeitos noéticos do pecado. Desde a Criação, a mentira foi o primeiro artificio de Satanás para seduzir Adão e Eva e induzi-los ao erro. A Serpente “distorceu” a verdade de Deus a fim de persuadir e levar os primeiros habitantes da terra a pecarem contra Deus. Depois de convence-los a comer do fruto proibido, o diabo afirmou categoricamente contra a verdade de Deus: “é certo que não morrereis” (Gn 3.4). A partir dali, o homem se afastou da verdade de Deus e a mentira passou a fazer parte de todas suas tramas pecaminosas em todas as dimensões.
Quando falo em dimensões, me refiro a duas. No contexto bíblico, mentir é tanto falar quanto agir de forma contrária a verdade. Estas são as duas dimensões da mentira. Há a mentira na dimensão da fala, que é o ato de afirmar contra a verdade. Paulo diz: Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros (Ef. 4:25). Porém, há também a mentira na dimensão da ação comportamental, que é chamada de hipocrisia. A hipocrisia tem a ver com o agir com falsidade. Os hipócritas eram verdadeiros atores que dissimulavam suas verdadeiras intenções.
 As Escrituras deixam claro que Deus odeia a mentira. A mentira é obra das trevas. Jesus afirmou que o diabo, o enganador é o pai da mentira, porque ele escraviza pessoas com seus enganos e mentiras. Em muitos lugares da Bíblia, é expressamente clara a ordem de não mentir. O nono mandamento diz: “não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Ex. 20:16); Ananias e Safira morreram por que mentiram contra Deus (Atos 5:4); Paulo fala para deixarmos a mentira e falar a verdade (Ef.4:25); e o apóstolo João afirma que a mentira é obra das trevas (1Jo 1:5-10).  Deus odeia a mentira porque Ele é Luz e verdade, assim aqueles que tem comunhão com Ele, devem amar a Luz e a verdade e odiar a mentira!
O verdadeiro cristão deve abominar a prática da mentira e também confrontar os que tais coisas praticam.  Paulo diz para os crentes de Éfeso: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Ef 5:11). O crente verdadeiro não apenas evita a mentira mas também reprova sua prática. A mentira é confrontada de frente na palavra de Deus. Sabe por quê? Porque a mentira é um meio pelo qual Satanás aprisiona pessoas e assim elas não serem libertas por Cristo. Portanto, quando mentimos, ou somos coniventes com a mentira, passamos a ser “parceiros” do diabo em seus enganos!
Infelizmente, muitos tem sido comparsas de Satanás nesse sentido, pois mesmo sendo iluminados pela verdade ainda recorrem a este mecanismo diabólico.  Suas mentes estão cauterizadas e a luz da verdade parece estar esmaecendo em seus corações. No fundo, a mentira parece oferecer algum tipo de vantagem temporária ou mesmo um conforto. Ela se torna um conveniente necessário para o indivíduo se dar bem em determinada situação. Talvez o ato de mentir aqui não seja aquele categórico (afirmar contra um fato ou contra a lógica), mas é aquele tipo transvestido de jeitinhos,  espertezas e omissões a fim de “maquiar” a verdade e poder obter algum tipo de vantagem ou continuar na sua zona de conforto.
Só que há um agravante. Estas práticas “inofensivas” da mentira produz um ciclo vicioso e escravizador. O aparente “sucesso” da mentirinha gera um certo prazer (ufa, me saí bem!) e consequentemente uma escravidão. Isto quer dizer que o indivíduo mentiroso vai acabar dependendo de outras mentiras subsequentes para sustentar a primeira! Por mais que ele se sinta incomodado e constrangido a continuar omitindo a verdade, ele não vê outra alternativa. Assim, ele se torna escravo de seus enganos, e preso naquele ciclo vicioso da mentira, recorrendo a outras mentiras para acobertar uma outra.
Mas um dia este ciclo vicioso vai chegar ao fim e a verdade vai eclodir. Isto é, a mentira tem pernas curtas! E aí que está o problema. Quando chegar este dia, a coisa vai ferver e a “casa vai cair”. Vai ser um processo doloroso porque a verdade agora virá com um poder de destruir toda uma plataforma de engano que o próprio indivíduo construiu e sobre a qual ele sobrevivia. Por isso, Agostinho escreve que o ser humano ao mesmo tempo que ama a verdade, ele odeia a verdade. Este sentimento ambivalente, ele explica, é porque a verdade é tanto para a iluminação quanto para repreensão. Ele diz: “amam-na quando os ilumina, e odeiam-na quando os repreende. Não querendo ser enganados e desejando enganar, amam-na quando ela se manifesta e odeiam-na quando os descobre” (Agostinho. Confissões, Livro 10, 23). Em outras palavras, Agostinho está dizendo que o homem se sente incomodado pela verdade, devido a sensação de conforto que o pecado causa pela ausência da verdade. Daí, quando a luz vem, incomoda e causa um impacto profundo. O ódio à verdade é justamente porque ela, a verdade, como uma luz, brilha no confortável “quarto escuro” do coração humano e descontrói toda esta plataforma de crenças infundadas, valores enganosos e pressupostos mentirosos.

Muitos quando iluminados pela verdade, seguem sua luz e outros fecham a porta para continuarem na escuridão. Jesus afirmou que “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.  Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras.  Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus” (Jo 3:19-21). A mentira só vencida pela verdade. Não vencemos a mentira com outras mentiras ou meias verdades, mas pelo confronto direto com a verdade. Jesus disse: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). A verdade possui o poder libertador e é pelo conhecimento da verdade que o homem é liberto. Cristo é a Luz do mundo e a Verdade. Ele é a Luz que ilumina sobre as trevas de nosso coração, e a Verdade nos liberta das mentiras de nosso próprio coração, bem como das mentiras que o Diabo usa para tentar nos aprisionar e nos manter distantes da Verdade. 

Mercado da música gospel brasileira: a concorrência dos iguais!

Temos, há muito, questionado sobre a tendência mercadológica das músicas gospel no Brasil e, ao que tudo indica, a coisa vai piorar! Parece que os músicos evangélicos, seguindo a mesma visão secular do ritmo do momento, aquele que vende mais, têm navegado numas “ondas” de adoração “arrochadas”, que não passam de um fajuto “cola-copia”, um “Ctrl C, Ctrl V” de meras repetições e “repetir sons”, numa frenética concorrência para saber quem é o melhor dos iguais!

Cd´s são produzidos numa rapidez incrível para atender mais a “demanda” do mercado do que para ser voz profética em nossa geração; músicas, que se dizem inspiradas pelo Espírito Santo, são mais cheias de chavões e jargões de um “evangeliquês” vazio e sem graça, do que de teologia bíblica; melodias e ritmos reproduzidos e repetidos com uma cadência metricamente mercadológica em detrimento de um arranjo artístico, onde as melodias não abafam mas dão voz a Palavra!

Mas isso não é tudo. Tem mais. As canções gospel brasileiras têm se mostrado verdadeiramente etnofóbicas para com nossa própria linguagem  e expressão culturais. Grande partes das canções, quando não são versões de músicas importadas, seguem a mesma linha melódica das batidas internacionais (HillSong, Jesus´Culture, Planet Shakers, etc.). Nada contra este estilo musical. Mas o que estou pontuando é que na linguagem musical da cultura gospel brasileira não está havendo espaço para a brasilidade, e isso é muito ruim.

Este claro desprezo por nossa própria cultura talvez se dê por dois fatores: ou porque dá dinheiro (Afinal, é o que todo mundo canta!), ou, olhando de forma mais profunda, porque se traz ainda resquício daquela antiga mentalidade de satanizar a cultura brasileira.

Seja o que for - pode ser que haja até outros motivos para este auto desprezo cultural - o fato é que há uma nítida falta de nexo entre a cultura brasileira que temos e a música gospel que se canta por ai. E a consequência prática deste abismo cultural é uma igreja superficial e ineficiente em sua missão. Quanto mais próxima da cultura for nossa linguagem musical, maior eficiência teremos em nossa missão, e consequentemente haverá transformação real e substancial na mentalidade do povo.

A verdade é que a linguagem musical da cultura gospel brasileira, embora “estourando” nas vendas, na prática tem feito muito pouco para a transformação de nosso povo. Não tem havido uma filosofia musical que contribui para dialogar com a cultura brasileira, retratando os problemas reais de nossa sociedade e propondo ações e mudanças substanciais na vida do povo. E por não ter esta filosofia musical, e por insistir apenas em melodias extáticas de uma cultura “Rock and Roll” alucinógena, o movimento gospel no Brasil tem produzido músicas só de entretenimento emocional.

Gostaria de propor um retorno para a galera "gospel" do Brasil: um retorno a arte musical. Arte original e cheia de brasilidade. Arte que mistura criatividade e filosofia musical num só ritmo. Arte que combina a simplicidade dos tons e a profundidade das letras num só arranjo. Arte que harmoniza o som dos instrumentos ao som das Palavras dando sentido a graça. Arte que soa bem aos ouvidos, mas que transforma o coração e a mente.  Definitivamente, precisamos de boas músicas. Urgentemente, precisamos de excelentes músicos. Músicos que se deixam tocar por Deus, para ser verdadeiros instrumentos em Suas mãos, a fim de tocar nossa geração com a Palavra do Evangelho.


As Injustiças Sociais, um problema moral!

            
Ao longo da historia das civilizações, a humanidade tem coexistido com o problema das injustiças sociais. Como antítese dos ideais para uma sociedade livre, justa e igualitária, a realidade estratificada da pobreza e da miséria, bem como das desigualdades sociais, das explorações e da deslealdade – temas criticados pelo próprio homem - demonstra claramente que o problema das injustiças sociais que o ser humano enfrenta vai muito além de uma simples questão social, é um problema moral.

Como um ser moral, o ser humano tem consciência do que é verdadeiro, justo e bom, e seus opostos, e é compelido a agir em conformidade com esta consciência, fazendo as escolhas certas e duradouras. É o principio da universalidade da verdade e da moral, como Agostinho explica: “é preciso viver conforme a justiça, subordinar as coisas menos boas às melhores; comparar entre si as semelhantes; e dar a cada um o que lhe é devido. Não concordarás que tudo isso é muito verdadeiro e apresenta-se universalmente à minha disposição como a tua, e a todos aqueles que o considerarem?[Agostinho, O Livre Arbítrio]”. Para Agostinho, a verdade metafísica é um valor absoluto e universal, estando à disposição da mente humana, norteando suas ações e seus comportamentos.

Assim, a verdade é o principal agente para a formação de valores éticos individuais e sociais, resultando assim na construção de uma sociedade humana e justa. Entende-se por justiça (do latim “jus”, direito, equidade) a prerrogativa de agir corretamente, em conformidade com o direito, visando alcançar a harmonia nas relações sociais, e a verdade, por sua vez, é o fundamento básico para a construção e o desenvolvimento da justiça social. A justiça fica comprometida quando a verdade é comprometida. Seguindo este raciocínio, fica provado que a prática de injustiças sociais está diretamente ligada à dissolução dos valores morais e, sobretudo, ao descaso e abandono deliberado e persistente da verdade.

Na teologia bíblica, o homem abandona a verdade por causa da sua condição de pecado. Ele se encontra corrompido moralmente e, assim, rejeita a verdade. A Bíblia afirma que Deus criou o homem segundo sua imagem e semelhança, um ser moral e perfeito em santidade e justiça. O homem vivia em plena e perfeita harmonia com Deus, com o próximo e com a natureza. Não havia sentimento egocêntrico nem de exclusão, mas de puro amor e altruísmo. No entanto, a história de gênesis nos conta que o homem, num ato de rebeldia e insatisfação com a provisão de Deus e Sua vontade, peca contra o Senhor, afastando-se de sua verdade. As consequências desta transgressão foram uma tripla alienação – alienação espiritual, alienação individual e alienação social. Alienado espiritualmente de Deus, fonte de toda graça e verdade, o ser humano se torna estranho a si mesmo e a seu próximo, passando a ser regido pelo egoísmo e pela indiferença social, e se comportando de forma antagônica à natureza justa e boa de Deus, praticando toda sorte de imoralidade e injustiça social.

As injustiças sociais são então os efeitos de um condição de queda, que o homem se encontra. Sendo assim, o único remédio e, ao mesmo tempo, a cura é a redenção. O Cristo Redentor oferece a cura para as injustiças, sofrendo em si mesmo a injustiça, a fim de nos libertar de uma vida injusta. A redenção não nos faz pessoas sem pecado, mas nos cura dos efeitos noéticos causados pelo pecado. A redenção é o caminho pelo qual Deus restaura o homem à sua comunhão com Deus, onde nesta comunhão, tudo que é bom, belo, verdadeiro, e sobretudo justo, se torna sua alegria, satisfação e realização.

Poderíamos muito falar da cura para as injustiças sociais oferecendo respostas concretas como a justa distribuição de renda, a educação de qualidade, a igualdade de oportunidades, a erradicação dos preconceitos, o combate a corrupção, etc., no entanto, sabemos que isso seria apena a cura dos sintomas e não da doença. O mal continuaria ali, e logo logo veríamos outras formas de injustiças surgirem. É claro que a busca pela justiça verdadeira busca o bem de todos e não coexiste com as desigualdades e discriminações. Mas não podemos nos iludir pensando que a e cura de um sintoma é a cura da doença toda. Os sinais externos são reais e devem ser combatidos, mas devemos entender que eles apontam para uma causa única – a questão moral.

Jesus é a redenção para o homem viver a justiça de Deus, porque Ele é “justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26 ARA). Ele redime o homem começando em seu coração, de onde procedem as fontes da vida, e onde é a sede da moralidade (Pv. 4:23). E assim, o homem, feito justo diante de Deus em Cristo Jesus, tem seu coração cheio, não de comida ou bebida, mas do reino de Deus que é “justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17 ARA). O justificado em Cristo não se vende, pois para ele “Melhor é o pouco, havendo justiça, do que grandes rendimentos com injustiça” (Pv 16:8 ARA). Ele tem prazer na justiça e na verdade e por isso é feliz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mt 5:6 ARA).

Agora, vamos parar de combater os sintomas, vamos combater a raiz do problema! E você sabe por onde começar - seu coração!!!

Calvino e o Governo Civil

Em época de politica, fala-se muito em votar consciente, votar em ficha limpa, ser um cidadão! Mas qual deve ser a relação correta dos crentes com o governo civil? Há algum tipo de teologia ética que baliza a vida do homem e da mulher na sua esfera pública social e, estritamente falando, em sua relação com o governo civil? 
Jesus declarou: “dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus”. No momento desta afirmação, ele estava legitimando o governo civil como autoridade estabelecida e dada por Deus – “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada” (Jo. 19:11 ARA), e ao mesmo tempo, proclamando a separação entre as duas esferas de governo: o governo civil e  o governo espiritual.  Portanto, fica evidente que o Senhor Jesus entende claramente a natureza do governo civil e estabelece o fundamento para uma relação correta com esta esfera de governo. E foi baseado nisso que Calvino ensinou sobre o magistrado civil.
Calvino afirma que Deus estabeleceu um duplo governo no homem, a saber, o governo espiritual e o governo civil. O governo espiritual trata-se do reino espiritual de Cristo que tem como seu agente visível a Igreja, já o governo civil trata-se do Estado na sua administração política. Estes dois ofícios ordenados por Deus são de natureza e função distintas. A igreja tem a função de “conservar o culto divino externo, a doutrina e religião em sua pureza, o estado da Igreja em sua integridade e levar-nos a viver com toda justiça[1]”, já o governo civil, por sua vez, tem o poder de administrar a sociedade, mantendo a ordem cívica e promovendo a justiça social.
Calvino defendia uma total separação destas esferas de poder e chamou de “loucura judaica[2]” a tentativa de querer unificar estas dimensões de governo, formando um tipo de  “estado teocrático” como acontecia na Idade média com a igreja católica romana.  
No entanto, apesar de afirmar a distinção destes governos, Calvino entende que deve haver uma relação de compatibilidade entre si e que eles não devem ser contrários. O pressuposto básico defendido pelo reformador é que o Estado é um oficio ordenado e instituído por Deus: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rom 13:1 ARA). Entendendo que as autoridades “procedem de Deus” e são “por ele instituídas”, o pensamento de João Calvino segue a coerência de que o Estado e a Igreja, embora diferentes em natureza e função, ambos têm o mesmo objetivo: executar a vontade divina. A Igreja executa a vontade divina na sua esfera de poder, e o Estado executa a vontade divina na sua esfera de poder. E esta vontade de Deus, tanto para a Igreja, quanto para o Estado, não pode ser contraditória.
Este posicionamento de Calvino diferiu tanto da visão papista quanto da visão dos libertários anabatistas. Se por um lado, o papismo defendia a centralização dos poderes espiritual e civil sob a tutela da igreja romana, por outro, os anabatistas negavam categoricamente a submissão aos governos civis, sob a alegação de dever submissão somente a Cristo. No seu ensinamento, Calvino combateu os dois extremos, tanto do absolutismo e da tirania, quanto do antinomismo e do autonomismo, ensinando  o principio do governo civil como sendo um oficio, “com o direito de governar ordenado por Deus para o bem-estar da humanidade[3]”.  
Na visão de Calvino, há uma relação coesa, embora contrastante, entre o magistrado e a Igreja.  O magistrado, além de ser guardião das leis e da paz, mantenedor da ordem e promotor da justiça social, deve estabelecer leis que são coerentes com a moralidade divina, que garantam os direitos do povo e, que também protejam a verdadeira religião. Por outro lado, a Igreja, como que vivendo debaixo da temporalidade das leis civis, além de honrar e estimar o magistrado civil, sendo-lhe submissa, também funciona, para o Estado, como um agente de aconselhamento – dando noticia ao magistrado acerca daquilo que precisa ser corrigido[4] - e reprovação.
Esta atitude de reprovação por parte da Igreja é a única exceção admitida por Calvino, quando o magistrado civil toma uma posição contra sua própria natureza e função instituídas por Deus e exige do povo algo que é contrário a vontade Deus. Para ele, o magistrado perde sua validade e utilidade quando perde sua identidade. Assim, o reformador ensinou o principio que a Igreja deve obediência ao magistrado e todos os governantes, mesmo àqueles que são maus e exercem o poder de forma coercitiva, no entanto, com esta exceção: enquanto estes permanecerem fieis às leis de Deus. Do contrário, se eles ordenam algo contra Deus, que “não seja de nenhuma relevância e valia[5]”.



[1] Institutas, 4.20.2
[2] Institutas, 4.20.1
[3]Commentary on the Epistle to the Romans, Chapter 13.1 – tradução minha.
[4] Institutas 4.20.23
[5] Institutas 4.20.32

Orientação sexual ou Decisão moral?


É comum ouvirmos que a homossexualidade é uma questão de orientação sexual apenas, e nada tem a ver com uma decisão moral. Em toda mídia, em lugares públicos, no projeto de Lei contra a homofobia e até em cartilhas infantis sobre “educação sexual”, convencionou-se referir-se à homossexualidade como uma orientação, dissociando-a da moralidade. O objetivo é simples: quebrar as barreiras do preconceito e da discriminação pela quebra de paradigma, no caso, o paradigma moral. Quebram-se paradigmas, surgem novos valores e costumes. No entanto, percebe-se que ideia de orientação sexual, querendo se afastar da questão moral, entra num problema ainda mais grave: a absolutização da liberdade pessoal em detrimento do bem maior coletivo. Em outras palavras, cria-se um problema estritamente moral.

Com isso fica evidente que é impossível olhar para questão sexual sem as lentes da moralidade, e a questão da homossexualidade é essencialmente moral. Gostaria de provar esta tese com duas argumentações: os limites natureza humana atestam para o fato que o ser humano não pode ter uma orientação contrario a sua natureza e a ideia de liberdade pressupõe  responsabilidade moral.

Comecemos pelo argumento biológico. A ideia de orientação sexual é incoerente com o sentido de natureza. Em outras palavras, é antinatural. A própria natureza biológica determina os limites da sexualidade humana  e estes limites são intransponíveis.  O homem não tem o direito de dizer que é uma mulher, pois há uma imposição de limite natural sobre ele que o afirma como homem. Da mesma forma a mulher não pode dizer que é um homem, porque há uma imposição de limite natural que diz que ela é mulher! Assim, o limite natural biológico determina a sexualidade, e toda escolha contrario a esta natureza biológica é, portanto, antinatural e imoral.

Em segundo lugar, temos argumento da liberdade humana. Se no limite imposto pela natureza o homem não pode se orientar para aquilo que é antinatural a ele, neste argumento veremos que a ideia de liberdade pressupõe uma responsabilidade moral. Ou seja, todas as escolhas livres do homem são pautadas no seu senso de moralidade. Por exemplo, no caso da corrupção, julgamos como imoral porque sentimos que nosso direito foi violentado; no caso de abuso de autoridade, nos condoemos com aquele que não pode exercer sua liberdade; quando há algum estupro ou abuso de vulnerável,  a vitima não tem condições de defesa ou escolha, então julgamos rapidamente a imoralidade do estuprador e o condenamos. Isto prova que o ser humano estima a liberdade como um fator de escolhas morais. Porque se julgamos como imoral algum ato contra a liberdade de alguém, devemos da mesma forma, considerar que o exercício de nossa liberdade seja pautado pela consciência moral, de modo que não usemos nossa liberdade para ferir a liberdade de outros!

A conclusão que se chega é que a homossexualidade não pode ser considerada uma orientação sexual porque não se pode ter uma orientação antinatural a si mesmo. A estrutura da natureza humana impõe um limite que determina a natureza biológica do homem e da mulher, suas funções e suas reais orientações. Ao mesmo tempo, a ideia de orientação sexual para defender a prática do homossexualismo é improcedente porque  se vale inadequadamente do conceito de liberdade humana para tentar legitimar uma escolha antinatural e imoral. Assim, concluímos que a homossexualidade é uma questão de decisão moral e não de orientação. Agora, pra ser franco: afirmar isso não minimiza o problema e nem vai mudar em muita coisa a realidade do homossexualismo. No entanto, definindo que se trata de uma questão moral, temos mais condições de agora entender claramente a causa da homossexualidade, que é o pecado, e como lidar com ela à luz das Escrituras Sagradas.

CONTRA AS INDULGÊNCIAS DO EVANGELICALISMO BRASILEIRO



A igreja reformada sempre ergueu sua bandeira da justificação pela fé, se opondo a uma teologia de indulgências que contradiz as Escrituras. Este é um das marcas distintivas de nossa profissão de fé. Foi isso que Lutero, Zwinglio e Calvino afirmaram: Deus não precisa do que fazemos para Ele a fim de fazer valer o que Ele fez na cruz do Calvário por nós. Nossa salvação não depende de obras, mas única e exclusivamente da Graça de Deus, em Cristo Jesus.
Esta afirmação, na verdade uma confissão, serve para fundamentar o meu protesto e profunda tristeza a respeito do que hoje já se fala das “indulgências do evangelicalismo”. Infelizmente, muitas igrejas evangélicas têm sido criticadas, e com razão, por abusar da fé dos fieis, no quesito financeiro. Faço uma pausa para fazer um esclarecimento porque me refiro não a igrejas evangélicas históricas, as quais têm suas origens e caráter teológicos na Reforma protestante, mas as igrejas evangelicais que tem suas origens nas primeiras décadas do século 20, nos Estados Unidos, cuja ênfase teológica se baseia na confissão positiva e na prosperidade.
Estas igrejas estão em todo lugar, a todo vapor, ocupando todos os espaços físicos e midiáticos e, geralmente, tem crescido quantitativamente de uma forma expressiva, especialmente nos países pobres e em desenvolvimento. Provavelmente, a razão para tal sucesso seja a linguagem contextual e uma abordagem bem atrativa que ilude uma grande massa de pessoas com o anseio de transcendência financeira.
Parece mesmo uma volta as indulgencias do período medieval.  A impressão que se dá é que a contribuição se tornou um meio de obter graça especial de Deus. É uma nova versão para os sacrifícios no Antigo Testamento. É fácil ligar a TV e assistir a programas tipicamente evangélicos, fazendo apelos financeiros de uma forma totalmente espiritualizada. E o mais incrível, usam o nome de Deus para financiar seus luxuosos e projetáveis programas eclesiásticos!
            Não estou aqui querendo entrar no mérito de julgar as motivações destes líderes, até porque quem vai julgá-los é Deus.  Estou apenas chamando a atenção para o fato que tem havido uma inversão de valores na mentalidade e no comportamento do povo evangélico, devido a uma ênfase exagerada na prosperidade.  Não sou contra o crente ser bem sucedido financeiramente, só que a marca de uma vida abençoada por Deus nem sempre é a prosperidade material. Tomando a viúva pobre como exemplo de espiritualidade (Luc 21:1-4), Deus não está nem um pouco interessado no “quanto” damos a Ele, e sim no “como” estamos dispostos a viver somente para Sua glória, dando-Lhe tudo que possuímos.
            É bom deixar claro, para início de conversa, que Deus não precisa de nosso dinheiro para ser mais ou menos Deus sobre nós e nem mesmo para nos abençoar. Ele é o dono do ouro e da prata (Ag 2:8); é dono de tudo. Ele é suficiente para Si mesmo e tudo que Ele precisa – se é que precisa de alguma coisa- Ele encontra em Si. Esta verdade precisa estar infundida em nossas mentes e corações.
            Certa vez, o próprio Jesus criticou os fariseus da sua época porque valorizavam mais o ouro sobre o altar do que o altar que santificava o ouro (23:17). Aqui Ele contrapõe a uma mentalidade distorcida dos fariseus sobre a oferta. Em outra ocasião, Ele repreende os mesmos legalistas, porque estes apoiavam uma ação totalmente contraditória à vontade de Deus ao ponto de afirmar que um filho poderia ofertar (quorban – oferta) algo ao Senhor e deixar sua família passar necessidade, invalidando a Lei de Deus que ensinava a honra aos pais (Mt 15:5). Deste modo, fica claro nas Escrituras, e corroborado por Jesus, que Deus não exige de nós dinheiro algum para Ele nos amar.
Pelo contrário, Ele nos ensina que o dinheiro pode se tornar um grande empecilho para nós O amarmos! Jesus viu isso no coração daquele jovem rico (Luc 18:18-23). Ele louvou a atitude de Zaqueu porque a sua riqueza foi posta em segundo plano (Luc 19:1-10). E ensinou aos seus discípulos que o amor exagerado ao dinheiro, o acúmulo de riquezas, pode cegar as pessoas de ver e entrar no reino dos céus (Mt 19:23).
O meu ponto é claro: Deus não é comprado por nada e ninguém e não é nosso dinheiro que vai determinar nosso valor diante dele! Contudo, Deus pede que sejamos verdadeiros adoradores servindo-O com nossa vida, nossos planos e, inclusive,  nossos bens. Ressalto que precisamos ensinar verdadeiramente sobre os dízimos e as ofertas ao mesmo tempo que somos chamados a contrapor a uma concepção errônea atual no que diz respeito a contribuição dos santos. O fato de a igreja evangélica estar muito em evidência torna-a passível de críticas. Algumas críticas generalizadas devem ser descartadas, e outras, refletidas. No entanto, os dízimos e as ofertas, como sabemos, são assunto de ordem bíblica e deve ser tratado como tal. Não é por causa do mau exemplo de alguns, que vamos deixar de estudar e praticar o que a Palavra de Deus determina.


Quando a verdade tropeça a justiça não consegue entrar!

A prática da injustiça está diretamente ligada à dissolução dos valores éticos e morais e, sobretudo, ao descaso e abandono deliberado e persistente da verdade. 

A sociedade brasileira, ao longo de sua história, tem coexistido com o problema das injustiças sociais. Desde a colonização até os dias de hoje, o povo vem sofrendo as consequências da exploração e da estratificação social. E como antítese dos ideais de liberdade, igualdade e justiça, a realidade da pobreza, do preconceito e das desigualdades sociais, demonstra claramente que o problema das injustiças sociais vai muito além de uma simples questão social.  

Como se não bastasse, a sensação de injustiça se torna ainda mais evidente na população que convive com as crescentes ondas de escândalos de corrupção no poder público, com a impunidade dos corruptos e corruptores, sem falar daqueles que, legislando em seu próprio favor,  sacrificam toda a sociedade fazendo leis injustas e imorais a fim de agradar uma pequeno grupo e acabam institucionalizando a iniquidade e a injustiça.

O ensinamento da Palavra de Deus é que a prática da injustiça está diretamente relacionada à ausência e abandono da verdade. Foi isso que o profeta Isaias observou em seus dias. Vendo o aumento da injustiça e da iniquidade, ele descreve que a verdade andava “tropeçando pelas praças” (Is. 59:14). A ideia é que a verdade não estava presente nos julgamentos. Sim, a verdade havia sumido, e a injustiça estava reinando. Com isso fica claro o principio bíblico sobre a causa das injustiças - quando a verdade é desprezada e abandonada, a justiça é deturpada e corrompida.

No entanto, a teologia bíblica afirma que o homem está em oposição à verdade devido a sua condição de pecado. Deus criou o homem como um ser moralmente “reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec. 7:29). Ao pecar contra o Senhor no Éden, Adão, e consequentemente toda a raça humana, deixou seu estado de perfeição e passou a condição de total depravação. Como está escrito em Gênesis “A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência; Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra (Gn. 6:11-12).

A humanidade corrompida se torna alienada espiritual e socialmente, andando de forma antagônica à natureza justa e boa de Deus, praticando toda sorte de imoralidade e injustiça. O profeta Isaias descreve depravação humana da seguinte forma: “Os seus pés correm para o mal, são velozes para derramar o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; nos seus caminhos há desolação e abatimento.  Desconhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; quem anda por elas não conhece a paz.  Por isso, está longe de nós o juízo, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que há só trevas; pelo resplendor, mas andamos na escuridão.”(Is. 59:7-9).  Corrompido moralmente pelo pecado, o ser humano abandona a verdade e corrompe a justiça.

A justiça é corrompida em três dimensões: a corrupção ética, a corrupção política e a corrupção religiosa.

A corrupção ética. Ao deixar de lado a verdade, o homem se corrompe na esfera ética. No mundo moderno, o conceito de ética (ethos) tem sido muito utilizado para se referir as regras e preceitos que motivam, disciplinam e orientam uma pessoa ou um grupo.  A ética individual determina a ética social pela prática da justiça. Noutras palavras, ética é o que se cultiva moralmente no caráter, e se expressa de forma ampla no contexto social; é o ‘imperativo interno’  que compele o homem a fazer o que é certo e bom e viver à luz da verdade e da justiça.

No tempo do profeta Isaias, os valores éticos e morais estavam se dissolvendo e comprometendo a pratica da justiça. O profeta explica que não havia ninguém que clamasse pela justiça, nem que comparecesse em juízo em defesa da verdade (Is 59.-4). Imperava a iniquidade. Devido ao abandono da verdade, o povo estava cultivando uma ética desintegrada e corrompida, sendo desonesto, falando mentira e praticando a injustiça.

Hoje em dia, muitos tentam dissociar a ética do direito, afirmando que o que é legal não precisa ser necessariamente ético. É preciso se opor veementemente a este pensamento considerando que a ética e o direito não são temas excludentes entre si. Tudo que é legal deve ser necessariamente também ético. A verdadeira justiça e o direito só serão alcançados quando harmonizados com a ética individual e social.

A corrupção Política. Além da ética, o ser humano se corrompe na esfera politica.  A prática de injustiças pode ser claramente percebida quando o poder político é corrompido e quando os que governam deturpam o direito, aceitam o suborno e negam a justiça ao justo (Is 5.23). Da mesma forma, quando aqueles que têm o poder de fazer as leis, e que deveriam zelar pela justiça e pela verdade, decretam leis injustas e de opressão, vedando o direito dos pobres e dos aflitos (Is 10.1-2). 
O profeta Ezequiel comunica para os líderes de sua época. Ele se dirige para os príncipes da nação  e os exorta a praticarem a justiça e o juízo, afastando a violência e a opressão; tendo balanças justas na presença do Senhor (Ez. 45:9-10). De igual modo, Jeremias confronta os lideres da sua geração a executarem o direito e a justiça, livrando o oprimido do opressor e a não derramarem o sangue inocente (Jr. 22:3).
O cenário politico brasileiro se identifica com a realidade que o texto bíblico está descrevendo. Muitos políticos se corrompem e se tornam corruptores da justiça, se envolvendo em falcatruas e esquemas políticos para seu próprio interesse e benefício. Quando formulam leis injustas que contribuem para reforçar as divisões de classes e que favorecem só os ricos e poderosos em detrimento dos pobres e dos menos favorecidos; Quando formulam leis imorais que contribuem para a desvalorização da vida humana, que cerceiam a liberdade de expressão e de culto, e que  promovem a desintegração de valores essenciais da família e do matrimonio.
A corrupção espiritual. O povo também se corrompe na esfera espiritual. Os lideres religiosos abandonaram a verdade e praticaram a injustiça. Jeremias fala dos profetas e dos sacerdotes, cumplices na falsidade (Jr 5.30-31).  E no tempo do profeta Miquéias, um problema gravíssimo estava acontecendo. Os líderes estavam abominando o Juízo, pervertendo a justiça e praticando a perversidade. Além do mais, as sentenças eram dadas por suborno, os sacerdotes ensinavam por interesse pessoal, e os profetas falavam por dinheiro (Mq 3.9-11).
Não é assim também hoje em dia? Falsos mestres têm surgido distorcendo a palavra da Verdade para enganar o povo e deixá-lo na ignorância; lideres centralizadores e dominadores que escondem a verdade do povo para oprimi-lo; pastores que fazem o ministério por sórdida ganância e assim exploram da simplicidade e da ingenuidade das pessoas.
 As Escrituras afirmam que Deus ama a justiça e o direito (Sl. 33:5) e pede ao homem que execute o juízo, segundo a verdade, em favor da paz (Zc. 8:16). A ausência da verdade não é compatível com a justiça, pelo contrário, a verdade é o fundamento básico para a justiça na dimensão ética, política e religiosa. Paulo diz  que o amor de Deus “não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1Co. 13:6). Assim,  verdadeira justiça só será alcançada pelo compromisso com a verdade. Verdade que é a Palavra infalível de Deus (Jo. 17:17), o Logos encarnado (Jo. 1:14) que liberta o homem de todo o pecado e injustiça (Jo. 8:32,36) e que o habilita a viver a justiça de Deus.

A sede da Religião

religiãoA religião tem sido um tema de destaque atualmente. Em todos os becos e ruelas de nossa sociedade é possível travar uma boa conversa, por um bom tempo, sobre algum tópico religioso. Parece que as mordaças do racionalismo desenfreado e do agnosticismo estão se desfazendo e a metafísica, que fora tão incisivamente confrontada no passado não muito longínquo, está retomando seu lugar de glória. O homem mais uma vez descobre que o transcendente, embora incompreensível, tem se tornado algo relevante às suas necessidades.
Os antropólogos e sociólogos afirmam que o homem é um ser “incuravelmente religioso”. Este fenômeno o acompanha através dos tempos, por todos os lugares e em todas as situações. De certa forma, a religião é uma das instituições mais antigas da sociedade. É simplesmente impossível estudar sobre qualquer aspecto da história, da identidade cultural ou das aspirações do homem sem levar em conta o quesito da sua religiosidade inerente.
A fenomenologia (manifestações empíricas aos sentidos humanos) da religião, sempre esteve presente nas grandes questões revolucionárias da humanidade, desde as civilizações priscas (antigas) e remotas até as mais modernas e desenvolvidas, e, ao que tudo indica, não será diferente daqui por diante. Desta maneira o homo religionis se move em direção ao metafísico em busca de uma transformação para sua realidade.
Que o homem é um ser religioso, isto é fato inegável. Agora, onde se encontra a sede da sua religiosidade? É possível determinar em que dimensão do ser humano é cultivado e processado sua religiosidade? Existem três linhas de raciocínio que aborda este tema. A primeira linha afirma que o intelecto é a sede da religião no homem. Pois é através do intelecto que o homem conhece o seu mundo e interage com ele. A segunda linha afirma que a emoção seria este loco religionis, uma vez que a religião passa por uma “experiência mística e empírica” que transcende a racionalidade. É por isso, justificam os adeptos a este pensamento, que a religião se torna uma necessidade real diante de condições emocionais prementes como o medo e a culpa dos homens. Por fim, a terceira linha declara que a religiosidade do homem é fruto da sua vontade. Ou seja, o homem é um agente livre, independente e auto determinante e, portanto, a religião é um subproduto de sua capacidade volitiva.
Embora as manifestações religiosas abranjam todas as dimensões do homem no seu intelecto, suas emoções e sua vontade, pode-se perceber que o fator religião reside num plano ainda mais profundo, regendo as motivações e propósitos dos homens bem como determinando suas perspectivas de vida e suas práticas sociais: a moralidade.
Deus criou o homem e o fez um ser moral, portanto a sede da religião é onde se encontra também a sede da moral. A palavra moral, do latim MORES, significa originalmente costume, hábito. É um “sistema organizado de regras de conduta para os grupos humanos[1]”. O valor primordial da Moral é a concepção do “Bem” e partindo daí, a construção de diretrizes normativas e convenientes que devem predominar sobre o povo a fim de se alcançar a moral.
A Moral se distingue da Ética. Se a moral é o conjunto de normas sociais ou um sistema de comportamento adequado e aceito pela comunidade – os costumes, a ética são os valores e princípios construídos em função da moral. A moral é determinada pela cosmovisão de um povo (visão de mundo e da realidade) e determina os valores e crenças deste povo, formatando um ethos (ética) social adequado e equilibrado.
Esta afirmação encontra um campo minado intelectual e uma pergunta então surge: é possível ter uma moral sem a religião? Ou será que toda religião implica necessariamente uma moral?
Obviamente, a moral e a religião são temas distintos, no entanto, estão intimamente ligados. Bertrand Russel, Filosofo ateu, comentando sobre a filosofia de Aristóteles, admite que “A ética de Aristóteles é, em todos os pontos, consistente com sua metafísica. De fato, suas (Aristóteles) teorias metafísicas são a expressão de um otimismo ético[2]”. Em outras palavras, a sua perspectiva metafísica ou transcendente estava intimamente relacionada com sua praxis moral e ética. Para ele, a existência de um Ser imutável, perfeito, eterno e bom, determinava uma ética boa, justa, organizada e estável.
Vendo por esta perspectiva, devemos afirmar que a religião é indivorciável da moral, e a religiosidade (a prática da religião) inseparável da moralidade. A religião se fundamenta psicologica e socialmente nos princípios da MORES e vice-versa. É impossível dissociar a metafísica da moral, ou a religião da moralidade. A nossa teologia (conceito sobre Deus) influencia e determina nossa práxis ético-social. Talvez alguns ateus não concordem com isso, porque eles fazem separação entre o que eles creem - mais precisamente: “não creem” - e o que fazem. No entanto, é importante ressaltar que até para ser ateu é preciso ter fé em alguma coisa!

[1] Hugo Schlesinger, Dicionário Enciclopédico das Religioes, vol 2, pg 1809
[2] Bertrand Russel – History of Western Philosophy, pg. 194

A BENÇÃO DO TRABALHO!

“O trabalho dignifica o homem”. Esta frase, proferida pelo calvinista Benjamin Franklin (1706-1790), ecoa através dos séculos como uma verdade suprema. Através do trabalho, o ser humano toma consciência de si e de seu valor. Pelo trabalho, o homem constrói sua realidade e se estabelece e pelo mesmo trabalho o homem transforma sua realidade e transcende! Se há uma coisa que distingue o ser humano dos outros animais é sua capacidade de trabalhar. Se o trabalho é o esforço físico ou mental com vistas a um determinado fim, por assim dizer, o trabalho não apenas dignifica o homem, mas também “dá sentido” a humanidade do homem!

Desde o Éden, a aliança de Deus com o primeiro homem incluía o trabalho. Deus formou o homem e lhe deu uma tarefa de cultivar e guardar o  jardim (Gn 2:15).  Nota que mesmo antes da entrada do pecado, o trabalho estava presente na humanidade como uma dádiva de Deus. No entanto, o que seria feito com prazer – cultivar e guardar o Jardim - , com a presença do pecado, passou a ser feito com sofrimento. O trabalho (do latim tripalìum 'instrumento de tortura') se tornou algo doloroso e representava a própria punição de desobediência do homem. Deus disse para Adão, agora caído: “maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”. Ainda:  No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gên 3:19). Observa que o trabalho em si não é  maldição, como tendem a afirmar alguns. Mas sim a dor e o sofrimento que passou a estar presente no processo do trabalho.

A partir de Moisés, Deus resgata o real significado do trabalho. No exercício do labor, o homem precisava compreender bem o principio da glorificação. Deus estabelece o sábado. Deus disse: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.  Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro” (Êxo 20:9-10). Deus vocaciona o homem para o trabalho, mas um trabalho que culmina no sábado, o descanso. Em fazendo assim, o ser humano estaria glorificando a Deus porque “porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20:11). A ideia básica do sétimo dia de descanso é trabalhar dentro do padrão estabelecido por Deus, visando assim Sua glória.

  Os reformadores deram maior ênfase ao principio do trabalho para a glória de Deus. Lutero se referiu ao trabalho como uma vocação divina (Beruf em alemão e Work em inglês), já Calvino afirmava que o trabalho era uma benção de Deus e devia ser feito para a glória de Deus e dignidade do homem. Hermisten Maia[1] comentando sobre o principio econômico de Calvino, explica que ele defendia três princípios éticos: o trabalho ou a diligencia, a poupança e a Frugalidade ou a sobriedade. Calvino sustentava que o cristão era livre para se dedicar ao trabalho (diligência) e adquirir bens (poupança), segundo ensina a Palavra: “Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus” (Ecl 5:19). Observa o ensino bíblico:  riqueza como fruto de trabalho. Isso  é benção de Deus.

No entanto, a sobriedade é o fator moderador dos recursos adquiridos. Ou seja, como cristãos devemos “usar moderadamente os recursos que Deus nos deu, para que não caiamos na torpeza do excesso, da vanglória e da arrogância (Rm 13:14)[2]”.  A ideia subjacente a este princípio é o contentamento. Calvino ensinava que o objetivo da prosperidade pelo trabalho não era a ganancia – viver em função da riqueza - e sim a moderação com contentamento. Como ensina as Escrituras: “Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra:  afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Pv 30:7-9). Este é o principio da sobriedade ensinada por Calvino – trabalhar sem perder a simplicidade; se contentar com o fruto do trabalho sem dar lugar a sórdida ganância.

Deus criou o homem  e o vocacionou para o trabalho. Como cristãos, devemos valorizar o trabalho e não comer o “pão da preguiça”(Pv. 30:29), porque, como explica o provérbio: “o preguiçoso morre desejando, porque as suas mãos recusam trabalhar” (Pv 21:25). Deus aborrece a negligência, mas certamente abençoa a diligência de Seu povo. O salmista compreendendo esta verdade fala: “Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem” (Sl 128:2). Para Deus, todo o trabalhador é digno de seu salário (1Tm 5:18) e em todo o trabalho há proveito (Pv. 14:23). O trabalho em si é benção de Deus, e por ele Deus nos concede o pão para alimento e a semente para semear (2Co 9:10). Pelo trabalho, Deus nos dá não apenas o que necessitamos para nossa subsistência, mas o bastante para multiplicação dos frutos. Isso é trabalho. Isso é benção de Deus!
Feliz dia do Trabalhador!


[1] Fundamentos da Teologia Reformada, pg.158
[2] Idem. Pg.162